Em defensa do colégio de Merza

Um dia no pátio do colégio, quando tinha 9 ou 10 anos, descobrim algo que nunca puidem esquecer.

Por Séchu Sende | Compostela | 12/06/2013

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Há que explicar antes de nada que eu som dessas persoas às que lhes encanta olhar o céu, especialmente as nuves. Esta semana, por exemplo, voltei ter tortícule por olhar cara arriba, durante demasiado tempo, o arco da velha.
 
Assi que estava eu no pátio do colégio olhando o céu e vim isto: Um minhato a perseguir umha pomba, zig, zag, zag, zig! Traçavam no azul velozes giros, frenéticas virages. Era dramático.
 
De súbito -e isto lembro-o como se fosse hoje- quando o falcom  estava a piques de caçar a pomba, apareceu umha segunda pomba -assi, inesperadamente-, a mim abriu-se-me a boca em forma de Oooooooh,  e a segunda pomba cruzou-se no caminho do minhato que, sorprendido, tivo que variar a sua trajetória.
 
A segunda pomba vinhera em defensa da primeira e essa estranha manobra conseguiu que ambas as duas salvaram a vida.
 
Eu fechei a boca e hoje é a primeira vez que escrevo sobre isto porque sempre pensei que era umha história demasiado inverosímil como para que a gente chegue a pensar que algo assi pode suceder.
 
Pois si. Sucedeu. Aquel dia descobrim no pátio do colégio que as pombas podem atacar os falcons e essa foi umha lecçom que nunca, nunca esquecim.
 
Fai pouco, sendo já professor, descobrim um texto medieval sobre as revoltas irmandinhas e aquel movimento social onde se falava dos irmandinhos e dizia-se que "os pardais correm tras os falcons".  A história do nosso país é, dalgum jeito,  umha história de pombas e falcóns. Na Galiza de hoje estamos a ver que a única soluçom para acabar com esta situaçom de agresions à justiça social e rapinha do bem comum por parte do neoliberalismo espanholista, a única soluçom, é que as pombas nos enfrontemos aos falcons. 
 
Eles, os falcons, vam cravar-nos as suas poutas sem piedade ningumha e vam faze-lo infatigavelmente... a nom ser nos defendamos. Vam continuar a fechar escolas, privatizar recursos públicos, empiorar a sanidade, fortalecer o caciquismo, forzar os nossos filhos e filhas a emigrar, provocar aínda mais desigualdade social, violéncia e fame... a nom ser que nos defendamos. E por todos os médios que tenhem ao seu alcance, estes falcons vam seguir a provocar individualismo, medo, pesimismo  e inseguridade e  desánimo... a nom ser que nos defendamos. Som falcons e estes falcons querem agora fechar o cole de Merza. O seguinte número na sua contabilidade. Mas nós somos persoas, e os nossos filhos e filhas nom som números.
 
Nós nom estamos indefensos: temo-nos a nós! Nós nom temos medo: eles som os que nos devem temer a nós! Porque se nos juntamos nós somos mais poderos@s e podemos mudar a trajetória da história.
 
Aprendim muitas cousas no colégio como aluno. E aínda continuo a aprender como professor. Por isso hoje quero sumar-me às pombas e aos pardais que no cole de Merza -e no resto da Galiza- se está enfrontando aos falcons.
 
 Nom ao feche do cole de Merza! Defendemo-lo nós!

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Séchu Sende Séchu Sende, professor de língua e literatura, escritor e domador de pulgas no Galiza Pulgas Circus, a sua última obra é Animais, Editorial Através, 2010. O seu livro de relatos Made in Galiza recibiu o prémio Anxel Casal ao melhor livro do ano 2007 e foi considerado o melhor publicado em língua kurda em 2010.