Joám Evans: “Queremos confrotar o bloco monolítico de políticos profissionais”

Joám Evans Pim é um dos líderes do Partido da Terra. Um partido que procura “substituir este aparato estatal por outro” para construir institucionalidades alternativas para o “autogoverno assemblear comunitário e a autogestão”. Também rejeita a política do “quita-te-tu-que-me-ponho-eu, do não-nos-representavam-mas-agora-sim, e do bons-nós e maus-eles”.

Por Xurxo Salgado | Lousame | 17/12/2015 | Actualizada ás 18:20

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Joám Evans Pim (Crunha, 1983) é portavoz municipal e concelheiro do Partido da Terra de Lousame desde novembro, responsabilidade que exercerá por quenda de rotação até o mês de março. Integra também a lista ao senado pola circunscrição da Crunha, que foi conformada polo sistema de sortes, mas não nao pede o voto nem para si nem para a sua lista. Nesta entrevista explica os motivos.

Joam Evans Pim, portavoz municipal e concelleiro do Partido da Terra en Lousame
Joam Evans Pim, portavoz municipal e concelleiro do Partido da Terra en Lousame

O Partido da Terra decidiu ir, finalmente, só a estes comícios. Porquê?
Por vezes, a gente está mais disposta a falar de "política", no sentido restrito à que a reduziram os partidos, e a confrontar abertamente ideias durante as campanhas eleitorais. O que queremos é confrontar o bloco monolítico de políticos profissionais, estatistas, parlamentaristas e desenvolvimentistas que disputam, com aparente antagonismo, a concessão administrativa de decidir por nós durante os próximos quatro anos, enquanto confiam que continuemos chamado-lhe a isso democracia. Houve uma tentativa de fazer isso mesmo com uma base ampla, a Grândola Galega, mas foi evidente que não é em democracia no que apostaram os movimentos de "confluência".

O quê achas sobre a ausência dessa unidade popular por volta a uma listagem?
Sim existe uma "candidatura unitária" que aglutinará, como em qualquer ditadura, mais de 90% do voto, mesmo que por motivos estéticos se apresente "concorrendo" por separado para manter a aparência de pluralidade. É como muitos concursos públicos para adjudicação de obras onde um mesmo conglomerado empresarial apresenta várias ofertas sob marcas distintas. O programa comum dessa candidatura unitária das forças que usurpam o nosso direito de decidir por nós próprias é a política profissional, a infantilização política das pessoas, e a continuidade da ditadura parlamentar sob a máscara de "democracia liberal", irmã da democracia orgânica fascista, da democracia popular estalinista, e da democracia guiada da Rússia ou Indonésia.

De quem é a responsabilidade?
A responsabilidade desta situação é nossa e só nossa. Rejeitando a visão monolítica do poder e da autoridade, e percebendo que a continuidade do sistema estatal depende, em última instância, da nossa lealdade e cumplicidade com o regime, temos o direito e dever de revoltar-nos contra uma ordem constitucional que destrói lentamente o tecido social, a terra e a própria natureza humana. Este direito e dever de rebelião deve traduzir-se na não-cooperação social, económica e política e no estabelecimento de novas institucionalidades à margem do estado. Na Galiza as comunidades vizinhais são um espaço natural para a configuração das fórmulas de autogoverno e autogestão comunitária.

Chegais aos comícios com listagens em todas as províncias e por mérito próprio logo de alcançar as assinaturas necessárias. Tivestes boa acolhida durante este processo?
Muito boa. Botar-nos às ruas e corredoiras para explicar as nossas ideias às mais de 3.000 pessoas que deram o seu aval às candidaturas do PT foi muito gratificante, e mesmo surpreendente ao topar com pessoas que já conheciam e simpatizavam com elas. Mas não chega com fazer isso 15 dias cada quatro anos. É um trabalho que desde as distintas organizações paroquiais e de bairro que formamos o PT queremos continuar fazendo nos próximos 1460 dias, indo ainda mais além, à praxe de construir alternativas políticas e económicas autogestionárias.

Em teoria, sois o único partido galego que vai com as suas siglas a estes comícios. Acreditas que a gente valorará isso?
À gente que conhece e simpatiza com as propostas do PT não se importa o mais mínimo com que esta candidatura se apresente dum ou doutro jeito. O que está a propor transcende totalmente as marcas, as eleições, a pantomima representativa, e o mito do crescimento perpétuo capitalista. O PT é apenas uma das muitas caras dum movimento acéfalo e disperso que está a corroer lentamente a base de consenso na que se sustenta o aparato de domínio estatal.

Tendes uma longa tradição assemblear desde que nascestes. Quais são as vossas principais reivindicações para o 20D?
Reivindicamos que todas as pessoas somos políticas, dando visibilidade a uma alternativa à política profissional centrada no autogoverno das pequenas comunidades. A nossa proposta é a de encetar um processo desconstituinte, não para reformular ou substituir este aparato estatal por outro, mas para construir de forma paralela e em seu detrimento, institucionalidades alternativas para o autogoverno assemblear comunitário e a autogestão das necessidades básicas, possibilitando o desenvolvimento de sociedades à margem do estado, contra o estado, sem estado. Projetos como a Cooperativa Integral Catalana são um bom exemplo, articulando uma multiplicidade de iniciativas tanto a nível territorial como sectorial (alimentação, auto-emprego, financiamento, tecnologia, educação, vivenda, saúde e transporte). Na Galiza há uma multiplicidade de pequenos projetos similares em cerne.

E acreditas que vão ter apoio eleitoral? Imagino que o vosso repto será superar os vossos melhores resultados
Este tipo de propostas não precisam qualquer apoio eleitoral para levar-se à prática, apenas da vontade e empenho das pessoas e das comunidades. De feito, já está acontecendo sem necessidade de qualquer sanção. Cada dia somos mais pessoas as que partilhamos esses projetos e anseios, e campanhas passadas serviram para dá-los a conhecer a círculos ainda mais amplos, contrastando-os com as promessas vazias dos partidários da ditadura parlamentar que continuam a vender um desenvolvimentismo e bemestarismo energeticamente impossível. O PT não pede o voto e muitas simpatizantes e militantes praticam a abstenção ativa. Outras, é certo, mesmo podem sentir-se arroupadas ao verificar que há muitas mais pessoas que partilham as suas ideias, mas é ingénuo pensar que as transformações sociais e políticas que precisamos podem concretizar-se através de eleições ou partidos, incluindo o PT.

Há quem diz que isso pode restar-lhe votos a outras formações galegas. Concordas?
Concordo, e aguardamos restar o maior número de votos possível porque cada um significará uma pessoa mais que se desliga do circo eleitoral que veste a ausência de democracia e de igualdade política entre pessoas. Mais uma pessoa farta do quita-te-tu-que-me-ponho-eu, do não-nos-representavam-mas-agora-sim, e do bons-nós e maus-eles. Mas, sobre tudo, confiamos em que tanto no 20 de dezembro como daí para a frente o que lhe reste qualquer relevância ao voto a todas as formações, também à nossa, seja o trabalho ativo das pessoas construindo as suas repúblicas de aldeia, bairro e paróquia, através das práticas de autogestão e autogoverno comunitário. Quando sejamos muitas mais a exercer a independência desde abaixo, o que as galeguistas dos anos trinta chamaram "autodeterminação funcional", e nos desliguemos da maceração cerebral que supõe a farsa eleitoral, o domingo eleitoral será apenas uma anedota.

O PT já tem concelheiro em Lousame. Como foi o vosso trabalho institucional desde que alcançastes essa acta?
O nosso trabalho em Lousame continua a estar, como antes, ao pé das comunidades vizinhais, defendendo os bens em mão comum e apoiando iniciativas autogestionárias. As pessoas que estamos nos PT paroquiais de Lousame somos antes de mais vizinhas, comuneiras, labregas e sócias ativas de entidades culturais. Para além disso, tentamos colocar em evidência o absurdo da existência de um governo municipal que decide sobre o que não sabe enquanto cala a quem melhor se poderia governar: a vizinhança. Demonstramos que nestes tempos de caudilhismos, pode funcionar um sistema no que as concelheiras rotam cada quatro meses estando submetidas ao mandato imperativo assemblear. Denunciamos o roubo sistemático que supõem as "indemnizações" por assistência a plenos, juntas e comissões, ou os "subsídios" por cargos eleitos e grupos municipais, e rechaçamos cobrar por nenhum conceito. Também evidenciamos simbolicamente a usurpação da capacidade de decidir que representa o pleno, sentando-nos nas bancadas do público, às que se lhes nega voz e voto.

Que aguardas do 20D?
Nada. Embora na Galiza o ciclo eleitoralista não finalizará até o próximo ano, o 20D é o princípio do fim de um brutal período de desmobilização social, fruto da manipulação e falsas esperanças que se venderam como "democracia real", "processo constituinte", "recuperação económica", etc. Precisamente com o Solstício de Inverno, noite mais longa do ano e começo passeninho da volta do Sol e da luz, abre-se uma nova etapa que devemos saber aproveitar para iniciar um verdadeiro "processo desconstituinte" que subtraia progressivamente poder, legitimidade, autoridade e efetividade ao quadro jurídico-político-económico que sustenta a existência do estado.

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Comentarios 17 comentarios

1 Zé da Terra

Ten que ser duro de ler para os das Mareas, Podemos, BNG... Debe doer, até escocer, as claras comparacións. A distancia do PPsoE ao BNG, Mareas e Podemos é mínima, pola contra estes últimos están a anos luz do PT. Pois BNG, Mareas e Podemos son parte do sistema, da casta, recambio reformista para que todo siga igual, xogo do poder e mentira que traiciona os idearios galeguistas. Seguimos xogando á democracia tutelada ou destapamos a trampa?

1 Nerio

Destapamos!

2 Carnocho

:))) boa herba, neno