Por Jon Amil | Compostela | 01/03/2016
A grande verdade é que se contam com os dedos da mão. Parece-me umha precisom mui necessária, porque alguém poderia confundir-se e pôr-se a contar com os dedos do pé. E concordaredes comigo que ter que descalçar-se cada vez que queiras contar é bastante pouco prático, ou?
Isto é algo que sempre me fascinou da língua, essas aparentes redundâncias que encerram dentro um matiz importante. Por exemplo, quando algo é mui caro ou requer muito esforço di-se coloquialmente que custa um olho da cara. Reparai bem no matiz da cara. Algumha pessoa melindrosa e pouco reflexiva pode dizer “Ai, nom fai falta dizer da cara, todo o mundo sabe que os olhos estám na cara”. E nom é assim. É totalmente diferente dizer “Conseguir o trabalho custou-me um olho da cara” que dizer “Conseguir o trabalho custou-me o olho do cu”.
Se esse exemplo vos parece demasiado revirado, pensai nos anos de idade. Quando um polícia dá os dados dum suspeito, sempre fala algo do tipo “O indivíduo é um homem branco de 30 anos de idade”. Se nom especificasse, poderíamos pensar que é um homem de idade indeterminada que leva 30 anos sendo branco, porque foi descolorando com o tempo ou algo. Nom, nom vou fazer o chiste que todos estades a pensar. Nom, de verdade. Nom insistades.
Mas a cousa nom fica aí. Nos meus tempos de adolescente, quando chamava à minha nai para dizer que me deixasse chegar um pouco mais tarde, ela dizia-me “Tés 30 minutos de relógio”. Minutos de relógio. Sim, claro, nom vam ser minutos de arco, nom teria sentido que nom me permitisse girar. Mas... e se em vez de minutos de relógio fossem minutos-luz? O minuto-luz é umha medida de distância que equivale a case 18 milhões de quilómetros. Se a minha nai falasse de minutos-luz em vez de minutos de relógio, o que estaria a dizer é “como nom venhas logo vai-che faltar espaço para correr”.
Por último, a minha expressom favorita de todas é café bebido, como em “Que fame tenho! Nom parei em toda a manhã e almorcei só um café bebido”. Reconheço que me levou um tempo aceitá-la, porque o café só se pode almorçar bebendo-o. A única alternativa que me ocorria era almorçar um café comido, mas para isso faria falta solidificá-lo primeiro, e é absurdo. Mas vivemos numha época de pseudociências e crenças ridículas, e resulta que agora está na moda umha certa prática que supostamente ajuda a desintoxicar o fígado: o enema de café. E, precisamente, o que aconselham é fazer os enemas de manhã, em jejum. Entom, desde que descobrim isto, eu agradeço enormemente que a gente especifique que o café foi bebido. Fico muito mais tranquilo.