A minha filha tem once anos
e já sabe mesturar a realidade com a ficçom.
- Quem era?
- Um monstro.
A minha filha tamém sabe que os urcos de Tolkien
nom existem e já nom cre no home lobo
nem no Cancerbeiro.
- Esse home é o primeiro no meu ranking de monstros,
dixo misteriosa, e botou azúcar no leite.
- Pensei que eram os zómbis.
- Já nom, os zómbis som passado. Sabes, nom existem.
Quando era pequena
cria que os monstros de mentira existiam realmente
e agora dou-me conta de que há gente
que nom cre nos monstros de verdade,
nos verdadeiros monstros,
dixo a minha filha de once anos.
Fiquei em siléncio, com o café na língua.
Pensei que o monstro que mais temia
a minha filha seria um desses que nem sequera
o telejornal pode ocultar.
- Queres saber quem está de segundo no meu ranking
de monstros?
- Por favor.
- A polícia antidistúrbios. Tenhem mais imunidade
que ningum outro monstro,
vam armados e podem golpear gente maior,
homes e mulheres desarmados,
menores de idade
e tenhem o apoio do governo.
Assi vai ser difícil acabar com eles,
dixo a minha filha,
Aínda que nom imposível.
E continuou falando:
- A policia é o braço armado
da violéncia de Estado..., dixo.
Ou isso lim num dos teus livros
de banda desenhada.
- E quem era o home do teu sonho? perguntei.
- Os antidistúrbios som urcos descerebrados
e obedientes.
O primeiro no meu ranking de monstros
é o home que da as ordes
com trage e gravata
desde umha oficina do governo.
Os piores monstros som os que nom
o parecem.
Ergueu-se e levou a taça ao fregadeiro.
- Quando sonho com el sempre o vejo
sementando sementes
nuns vasinhos de cristal
e olha para mim, sorri e ás vezes di-me:
- Som sementes de terror.
Ou di-me: Som sementes de indiferéncia.
Ou di-me: Para que tenhades medo
a pensar de forma diferente.
Ou di-me: Nom lho digas a ninguém.
Já ves que nom lhe fago muito caso.
E agora vou-me para a escola.
Hoje toca-che a ti lavar a louça.
Passa-o bem.
Vaia, pensei, e fixem glubs,
E dixem para mim: Cada dia medram antes.