A Arca de Noé esta numa aldeia de Ourense

Cobrantas postra-se diante desta mulher que admiro na que o dito e o feito vam no mesmo carreiro. Proponho-lhes conheçer um dos projectos mais interessantes que tem a Galiza Interior, nessa Aldeia que ainda pareça abandonada nom o é porque muitos de nós temos uma dentro.

Por Cobrantas - Ugia Pedreira | Galiza | 01/09/2014

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Arca de Noé
Arca de Noé

Noemi levantou hà tempo a Corte dos Bois e agora em Vilar de Santos com ajuda e gente que a quer foi quem de levantar a Arca de Noe cheinha de boas vibraçons, presente consistente e futuro sostível. Inaugurada por tudo o alto com amigos e paladares de arte temos diante de nós uma jovem fémia que faz realmente que um outro mundo seja vivido a partir da natura (natura tambem é o nome que se lhe dá a cona). Organizou, gestionou, compartilhou ... em asociaçons de base, locais, programação culturais diversas sejam ou nom institucionais. Tem experiéncia e passou-lhe polo corpo o tempo e a gente. Poderia dar aulas nos masters de industria e gestom cultural como tantas amazonas do pais. A Arca de Noé tambem tornou nascer  para salvar-nos um pouquinho agora que tambem andamos em outro tipo de dilúvio, suponho para limpar. Parabens.

Abriches com o teu sócio da Corte dos Bois, uma mulher acarreirada, licenciada que vai para aldeia a abrir uma taberna. Porque?

Tal e como estão as cousas, arranjar trabalho é complicado.  Estava farta de dar cursos, ver que a minha vida passava e não viver realmente de algo do que gostava e onde queria, no rural. Também hai anos que trabalho no associacionismo linguístico (MDL, A esmorga, Pró-AGLP, AGAL)  e queria levar esta atividade à minha comarca, a Límia.

Por outro lado, sempre tive vontade de criar um espaço para se juntar e poder aprender umas das outras. Gosto imenso de ver gente que pouco tem a ver a misturar-se. Assim, o senhor de 70, que vem tomar um vinho, falar com a rapaza urbanita de 20, ou a senhora de 75 anos a falar com os músicos que tocam nesse dia.

Arca Noé
Arca Noé

Não existem apenas as cidades como Compostela ou Ourense. Temos que criar espaços culturais noutro lugares.

Qué aprendiches nese tempo, que puderas resaltar?

Muita cousa, mas sobretudo, que hai que sair da boubulha e ver mais alá. Aprendi a saber o que quero e o que não quero, polo menos agora mesmo. A vida está para desfrutar e para viver como queiramos e fugir daqueles lugares onde não te sentes bem, sempre desde a responsabilidade. Há de certas situações que não podes fugir.

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Qual é a atitude dos vezinhos da aldeia diante dum projecto de novos e com novas caras habitualmente por ali?

É alucinante, a vontade que tem a gente tanto velha, como nova, de ver projetos novos na sua aldeia, de ver que não morre. Os vizinhos e vizinhas sentem-se partícipes do projeto,  propõem atividades que podes fazer, trazem aos seus conhecidos e ajudam, ajudam muito.

Lembro que nos primeiros dias na Corte muitos homens diziam, não tendes TV, tereis que comprar uma, queremos ver os jogos de futebol!! A resposta era, para isso já tendes muitos bares aos que podeis ir, aqui é para que faleis entre vós. Esta ideia calou tanto entre muitos deles que cada vez que chegava alguém novo, já lhe diziam que aquele era um lugar para falar.  Criou-se uma dinâmica e as pessoas que mais vinham por ali tentavam integrar aos novos, fossem de por ali ou não, tivessem 20, 50 ou 70 anos. Para mim, conseguir isso é incrível!

Como vês tu o presente no rural galego?

Os dados e a realidade dizem que o rural morre, que cada vez mora menos gente. Aldeias, caminhos, montes abandonados... eu acho que isto pode e deve mudar e que o está a fazer aos poucos. Está-se a dar uma volta ao rural, muitas pessoas decidem assentar-se nas aldeia, criar uma pequena empresa e apostar polo comércio local, cada vez conheço mais casos por todo o país. Tanto  a nível económico, como com respeito à qualidade de vida, temos que voltar. O ritmo das cidades é brutal e não é sustentável. Deveríamos recuperar os valores de solidariedade e de convivência entre as pessoas. Temos que decrescer e ter tempo para a vida.

Qual é o novo projecto que estás a desenvolver?

A partir de agosto vou abrir uma nova taberna cultural “A Arca da Noe” em Vilar de Santos. O local tem muitas possibilidades e temos pensado ademais de concertos, fazer cursos e exposições.  A intenção é que seja um lugar onde se juntem as pessoas para falar, para fazer atividades, para cantar, para que vejam uma exposição, para dar a conhecer a nossa música, que as pessoas tomem um vinho ou o que for e que se sintam cómodas, como a casa de todos e todas. E sobretudo, um dos novos objetivos é tentar envolver às mulheres da aldeia, que se mostrem e que se vejam.

O nome foi ideia do Xico Paradelo a jogar com o personagem bíblico e com o meu nome. É “um local onde colhem todo tipo “bich@s e alimárias, em parelha ou solitári@s, equinodermos ou bivalves, telúricos ou pessoas humanas a bordo desta nau para desfrutar com ilusão desta nova derrota.”

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Ser mulher e jovem num contexto como no que tu te moves parece de alto risco. Sintes credibilidade, proximidade...qué sintes?

Eu estou muito a vontade, gosto da gente e de gente diferente. A verdade é que desde um princípio consegui integrar-me rápido. Não é idílico, às vezes ouves barbaridades, mas com o tempo consegui que diante minha não fizeram esse tipo de comentários, não sei se mudaram de maneira de ver o mundo ou se se reprimem, mas polo menos são respeitosos.

Também creio que para eles, sobretudo para as pessoas mais velhas, sou uma excêntrica, uma rapaza tão nova, com carreira que monta uma taberna numa aldeia, que escreve em português e ainda traz grupos de música, exposições e tal.... todos e todas somos diferentes e iguais ao mesmo tempo e acabaram por integrar-me e entender-me.

Qual é a tua relazom pessoal com a TERRA?

Entendemo-nos bem umas vezes melhor do que outras.  Hai tantas terras como pessoas. Somos terras cheias de incoerências e isto é o que nos fai pessoas.

Conheces outras propostas coma a tua, a nivel galego ou internacional?

Hai muitas tabernas polo país, ou havia, dessas nas que te juntas com as pessoas para beber um copo de licor ou de vinho e falas, falas e ainda se lhe bota uma cantiga. Desde miúda, nos bares de  Pinheira e, especialmente, anos mais tarde na Tasca do Xico, em Mandim percebi que gostaria de ter um espaço assim,. Este projeto tenta dar continuidade àquelas tabernas acrescentando a possibilidade de ouvir um concerto, ver uma exposição ou fazer um curso.

Quem realmente te apoiou nesta nova etapa?

A verdade é que tenho muita sorte nisto, há muita gente por trás deste novo projeto. A minha família, que nunca deixa de estar e fazer de tudo,  à Irene Veiga, que tem muita paciência comigo e que me dá muita seguridade, ao Xico,  polo nome depois duns vinhos, ao Heitor, porque fez um desenho impressionante, a gente de Ourense e de Compos, da Agal e da Pró-AGLP, os amigos e amigas da Límia, os senhores dos vinhos, muitos músicos que já me falam de vir tocar e que falam muito bem do local sem ainda conhecer como vai ser... e agora as pessoas de Vilar de Santos que se estão a oferecer para o que faga falta quase sem conhecer-me.

Também desde o concelho de Vilar de Santos fizeram todo o possível para que fosse para diante o projeto, e quando desde aqui querem, nota-se bem. Ao dono da casa, Oterino, se existissem pessoas assim penso que muitos projetos se poderiam levar avante.

Seguramente me esqueço de pessoas.

Qual é a tua aportazom política e social a este contexto?

Eu gostaria e é um dos meus principais objetivos é que a gente valorize a sua cultura, a sua música e a sua língua.

A maioria das pessoas não sabe que existe a música galega, mesmo nos setores mais galeguistas. Nos meios de comunicação não falam delas e desde as instituições não se promovem como deveriam. A minha intenção é que se conheça, desde os poucos recursos com os que contamos e que chegue ao maior número de pessoas possível.

Muita gente também não conhece a realidade linguística da Galiza e as vantagens que tem falando em galego. Como podem ir  a Portugal, a menos de 30Km,  com a sua língua, ler um livro angolano ou ouvir música brasileira sem ter problema para entender. Outro dos objetivos principais também é que a gente conheça isto.

E é fundamental para mim não perder aquilo do que falam as pessoas mais velhas que antes havia e agora não, a solidariedade entre a gente, ajudar-se umas às outras e o convívio intergeracional na festa, no trabalho ou tomando uns vinhos... Na sociedade atual parece que apenas vivem pessoas novas e que aquilo que tem para dizer-nos as pessoas mais velhas está num segundo plano. Acho fundamental ouvir a essas pessoas e aprender delas.


Ugia Pedreira - Cobrantas

Com oito álbuns lançados, a cantora de Marful e diretora do Centro Galego de Música Popular, aCentral Folque, cria este espaço para as cobrantas musicais feitas á mao, é dizer, pessoas e projectos musicais que ao meu entender sejam de alto risco, medulares, lumínicos, vertebrais, que prestem atenção á canteira e a deixar sementes prantadas arredor da música galega feita em qualquer parte do mundo. Em Cobrantas intentara-se chegar ao para qué e porque dos discos, livros, tendas, pub, músico, editoral ou ideia a desenvolver na atualidade.

Máis artigos de Ugia Pedriera aquí.

Arca Noé
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Ugia Pedreira Com oito álbuns lançados, a cantora de Marful e diretora do Centro Galego de Música Popular, aCentral Folque, cria este espaço “para as cobrantas musicais feitas á mao, é dizer, pessoas e projectos musicais que ao meu entender sejam de alto risco, medulares, lumínicos, vertebrais, que prestem atenção á canteira e a deixar sementes prantadas arredor da música galega feita em qualquer parte do mundo. Em Cobrantas intentara-se chegar ao para qué e porque dos discos, livros, tendas, pub, músico, editoral ou ideia a desenvolver na atualidade”. A Central Folque