Por Bernardo Ramírez | | 14/04/2010
Foi em Setembro do ano passado (2009) que me deparei primeiro com este país. A chegada foi muito difícil. Já escrevi sobre isso, mas hoje, passado quase quatro meses de vida nesta cidade foi tudo diferente.
Nos meus primeiros dias de trabalho aqui estava na Marginal, mais concretamente frente ao Porto de Luanda. Lembro-me de estar num gabinete, de olhar pela janela e de achar tudo bizarro. O clima era quente e pesado, mas lá fora parecia existir um nevoeiro permanente e tudo parecia partido e estragado. Muitos carros e pessoas. Tudo tão diferente.
Do outro lado do prédio, ao virar a esquina há um café restaurante que não recordo o nome, mas onde ia almoçar. Recordo com muita clareza esses primeiros passos sozinho na rua. Menos de 50 metros e o quanto me intimidavam. Nessa altura recordo que tinha na memória todas as coisas que toda a gente me tinha dito, e esse sentimento, misturado com a diferença assustava-me.
Antes de entrar para o restaurante, lembro-me um dia, de ter olhado para a rua, para os prédios e para as pessoas e pensar: nunca serei capaz de caminhar sozinho, quero tanto, mas tenho tanto medo, é tudo tão estranho.
Hoje voltei a estar nesse sítio, olhar para esse caminho, para essa rua e pensar: não consigo sentir medo, não recordo sequer como é esse sentimento que me intimidava.
Nessa altura tive dois colegas aqui a trabalhar. Um dia fomos almoçar a um restaurante aqui perto de casa, que tantas vezes vou a pé. No dia seguinte, já não queriam ir a pé e não percebi o impedimento. Já em Portugal disseram-me que nunca sentiram tanto medo e tão intimidados como nesse percurso. Estranhei o medo deles, mas a verdade é que já o tinha sentido.
Felizmente somos capazes de mudar, de nos transformarmos, de redescobrir e renovar a nossa forma de olhar para as coisas e de as viver. Hoje li o seguinte: “Fear is the opportunity for courage, not proof of cowardice” John McCain
Realmente essa poderá ser a grande chave. O medo pode ser uma ferramenta extraordinária de transformação. E este país, acima de tudo, oferece-nos essa possibilidade todos os dias.