Por manuel | Compostela | 18/07/2016
Artigo de Manuel Miragaia Doldán
Por todo o anterior, o novo galeguismo organizado que pretendemos, além de regaleguizar o País, deve ajudar a solucionar de uma vez, com coerência, o insuportável discurso contraditório de certo galeguismo dos últimos anos, quando afirmava que Galego e Português são a mesma língua, mas mantinha uma praxe que visava exatamente o contrário. E nos documentos oficiais o novo galeguismo soberanista tem de expressar-se em Galego Internacional, ainda que os seus membros, a título particular, o possam fazer com outras normativas.
A nossa mocidade, hoje com a melhor preparação da história, continua emigrando ou fica precarizada. O nosso meio rural, durante séculos reserva da nossa identidade cultural e social, fértil e esplêndido, sem que ainda desenvolvesse as suas enormes potencialidades, acha-se próximo à desaparição. O nosso meio natural, degradado pela falta de cuidados e os abusos especulativos e extrativos que se acostumam cometer nele. A nossa economía e a nossa sociedade, que tradicionalmente padeceram uma dependência alheia, agravada no presente pela globalização europeia e mundial, e pela crise económica, necessitam também uma defesa firme e um estímulo unitário e organizado socialmente, inteligente e decidido, perante os desafios do futuro. E como resumo que exprime a nossa delicada situação atual, o devalo populacional, pelo que a Galiza perde ano após ano mais e mais habitantes, sem que ninguém, a partir das instituições, nunca procurasse encontrar o remédio. Só os galegos e as galegas, dotados de soberania, com a plena disposição dos nossos recursos e meios, poderemo-la algum dia solucionar. E, se calhar, vermos tornar-se real o sonho de que todos os galegos e as galegas espalhados pelo mundo possam voltar, se o desejarem, ao seu lar nacional.
Não seria racional nem produtivo ficarmos paralisados, vendo dia a dia, com impotencia, lamentos ou resignação, como esses modelos há já muito tempo caducos e fracassados de áspero e sectário galeguismo partidista, institucionalizado, oportunista e de curto prazo, que conhecimos nas últimas décadas, caminha veloz para a sua própria autodestruição, sem que nasça algum tipo de alternativa. Melhor seria analisarmos, repararmos e inspirarmo-nos nas iniciativas galeguistas nadas nas bases cidadãs e nos movimentos sociais, derivadas do ativismo e do trabalho voluntário, cooperativo e desinteressado de muitas pessoas que houve nesse período, e que tiveram, sem dúvida, um grande sucesso. Seguramente serão as únicas iniciativas sociais que vão sobreviver ao nosso tempo. Referimo-nos aos centros sociais, às associações reintegracionistas, às iniciativas escolares e a alguns outros exemplos de bem sucedido empreendorismo social galeguista, que, talvez mais que nenhuma medida de carácter político-institucional das até hoje praticadas, contribuiram de verdade a “fazer País”.
É necessário passarmos da crítica à ação, a regaleguizarmos íntegralmente o nosso País. Há muitas pessoas hoje que à sua maneira querem colaborar na construção de uma Galiza mais livre, dona de si própria, democrática e progresista, e não encontram as vias necessárias e das que gostariam para participar e inverter as suas energias. Que não se acredite de jeito derrotista que só é possível o que existente. Está só nas nossas mãos construirmos o nosso futuro como povo galego. Que a nossa consciência fique tranquila porque cumprimos com a tarefa de intentá-lo. Poderemos ser capazes, com o otimismo pragmático do que vê que aos poucos, passo a passo, vai edificando, de criarmos esse novo galeguismo do ativismo, que recupere o melhor do nosso pasado e da nossa história, com seriedade, com as características que sempre desejamos, fazendo as coisas bem desde o princípio, partindo de zero, sem hipotecas e dependências, com novos vimes, com bons alicerces, sem pastores, desde a base social, como corresponde ao que deve ser uma fase inaugural no tempo contemporâneo. O galeguismo do e para o século XXI.
Um galeguismo progressista, republicano, feminista, laicista, defensor dos direitos dos homossexuais e transexuais, com o seu “essencialismo” únicamente estabelecido na democracia e na participação popular, que se constitua como um vasto movimiento social nacional, radicalmente assembleário e participativo, em que, eliminando qualquer forma de sectarismo, de verticalismo grupal ou individual e de personalismo, as pessoas das freguesias, dos concelhos e das comarcas galegas se possam entender e colaborar mutuamente, ainda que tenham de início presupostos ideológicos diversos e não plenamente coincidentes, sempre que queiram procurar pontos de encontro, dialogar e trabalhar em comum, fraternalmente, em irmandade, e de forma ativista, voluntária e desinteressada, para fazer coisas pela liberdade, a soberanía e o progresso integral da mátria nacional galega e do povo galego.
Não se trata de criarmos um novo partido ou uma nova frente política para chegar às instituições. Não seria oportuno, dada a divisão partidista e política, o “politiqueio” barato e habitual tão praticado, e a desgaleguização atual da sociedade galega. Porém, com um tempo já de atividade e com uma presença social consolidada, os associados e associadas irão decidindo coletivamente a evolução da organização galeguista e soberanista. Também não se trata de montarmos uma nova estrutura permanente e profissional de liberados ou de mantermos, com novas formulações, alguma das que existam.
Trata-se de organizarmos um grande movimiento cidadão galego de massas, uma espécie de grande centro social que abranja toda a geografia do País –também a Galiza estremeira-, e que possa estar presente nos seus principais acontecimentos e reivindicações. A atividade seria a de desenvolver atos comemorativos, divulgativos, culturais e reivindicativos, realizar consultas telemáticas aos associados e à população, atuar nas ruas e nas redes sociais, influindo positivamente na sociedade, nas instituições, nos seus coletivos e nos meios de comunicação social. Trabalhar pela língua galega, pela cultura da Galiza, pelas relações com Portugal e a Lusofonia –uma política lusófona até agora nunca executada- e com os povos das outras nações da Península, pela economia galega, pela sociedade e pelo futuro da nação galega. E realizar as iniciativas culturais, midiaticas, económicas e sociais que para o bem comum do povo galego determinem democratica e assemblearmente os seus membros em cada momento, e que vá evoluindo, se o tem de fazer, da mesma maneira. Sem descuidar aliás os aspetos convivenciais e festivos que contribuam a gerar umas relações agradáveis e cada vez mais fraternas entre as pessoas.
Um movimiento galeguista patriótico, aberto, em que qualquer galego ou galega de nascimento ou adoção –também os da Galiza estremeira- possa estar cómod@, sentindo-se útil, desenvolvendo as suas ideias e energias para bem do nosso País, sempre que reconheça o carácter nacional da Galiza, e deseje a sua sobernia, a sua livre determinação, e queira o desenvolvimento sustentável das suas potencialidades e uma economia nacional ou galeguista. Um amplo movimiento social, uma casa comum e fraterna para todos os galegos e galegas de coração, em que possa haver pessoas independentes e mesmo filiados aos partidos políticos e sindicatos atuais e futuros, sempre que respeitem o carácter diferente deste âmbito associativo, que deve manter-se com completa autonomia de todos eles sem exceção. Um movimiento popular por construirmos, com galegos e galegas dispostos a colaborar entre eles, em diálogo constante e de jeito cooperativo, dentro das suas possibilidades e desejos, superando com crítica e debate os infecundos ideologismos infantis e os dogmatismos incertos e estéreis que houver, aceitando os critérios democráticos e de horizontalidade próprios de uma organização radicalmente assemblear.
Esse movimiento popular galego e de massas teria a formulação e a sua concreção como Assembleia Nacional Galega (ANG), porque o que se procuraria seria o objetivo de atuarmos da maneira mais aberta e integradora, e nunca renunciando a contarmos com a associação e o apoio da maioria social dos galegos e galegas. NACIONAL, enfim, porque a velha fórmula de “nacionalista” já está desgastada e esgotada, e já não revela popular, por causa do manuseado em excesso uso institucionalizado, ambíguo, nada ambicioso e transformador que teve nas últimas décadas.
A Assembleia Nacional Galega (ANG) manteria na sua atividade interna uma cultura do diálogo, do acordo, da cooperação e da irmandade. Contaria com uns estatutos, uns círculos ou irmandades locais –respeitando a estrutura parroquial e comarcal-, uns grupos de trabalho ou comissões, umas coordenadoras rotatórias locais e uma nacional, e uma seção juvenil: Mocidades da Assembleia Nacional Galega.
Haveria de establecer um logótipo, uma bandeira –poderia ter o escudo pintado por Castelão ao meio- e uns bilhetes de identificação para os seus asociados e associadas.
Há cem anos, o 18 de maio de 1916, na cidade da Crunha, reunindo um grupo de pessoas galeguistas até então espalhadas, surgiram as Irmandades da Fala, que foram acrescentando-se e chegaram a cumprir um papel fundamental em muitos terrenos e que deu frutos históricos para a Galiza.
Debatamos entre todos e todas o futuro do galeguismo linguístico, cultural, social e político. Assumamos uma responsabilidade solidária e patriótica. Procuremos soluções definitivas à sua atual decadência e à falta de vias para a participação. Para que todas as boas e ativas pessoas galeguistas, hoje sacrificadas por causa de fórmulas impossíveis e às vezes sem saberem que fazer, para que todos os galegos e galegas, possam estar dentro de um projeto galeguista, de construção nacional. Nós podemos criar o galeguismo do século XXI.
E que melhor maneira de celebrarmos o centenário das Irmandades da Fala que constituindo este mesmo ano uma unitária, aglutinadora e entusiasmante Assembleia Nacional Galega (ANG)!!!
“Os galegos e as galegas seremos o que só nós queiramos.”
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