A ética nas organizações empresariais

Na ética profissional e o Managing contamos com uma figura ainda não bem reconhecida na Espanha (sim internacionalmente) como é o Professor Javier Fernández Aguado. O seu último contributo com um estudo do Managing no Terceiro Reich é diretamente impressionante. Aguado criou uma nova e original linha de análise dos modos de direção das empresas -tanto a nível teórico como em Consulting- que parte de dous factos: que a direção se deve fazer com objectivos a longo prazo (direção por hábitos) e uns valores estáveis; e que as organizações podem dar lugar a umas estruturas corruptíveis apenas polo facto de serem organizações.

Por Xosé Morell | Vigo | 22/09/2014

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O pensamento de Aguado foi quem de superar aquela doutrina clássica e estática do Managing que fazia diferenças entre dous tipos de empresas: dum lado as que seguem o esquema das democracias ocidentais, assimilando "o povo" ao mercado, e o "pluralismo" ao acionariado disperso; doutro lado -naquele modelo ultrapassado- estariam as empresas autocráticas, nas que a propriedade tomaria as decisões de modo arbitrário. O primeiro tipo de empresa, assimilável às multinacionais, conduziria ao sucesso, e daria lugar a relações internas mais justas nas que o mérito prevalece também no progresso dentro das organizações. O segundo teria a ver com as propriedades familiares, cuja falta de crescimento e progresso interno viria dado precisamente pola sua constante falta de adequação das decisões ao mercado, já que os trabalhadores devem ganhar o favor do "ditador", e não o do "povo".
 
Mas a experiência recente e a crise do capitalismo veio demonstrar que é precisamente nas multinacionais e grandes empresas onde se produz a concentração de capital e poder. Os oligopólios -favorecidos polo Estado contra o libre mercado- oferecem uns produtos e serviços de pior qualidade, e favorecem umas relações humanas internas corruptíveis. Os trabalhadores aceitam as condições impostas ao não existir um mercado local produtivo e laboral onde circular, mas regimes estatais de monopólio. Ao contrário do que afirmava Marx, não é o livre mercado o que faz que o capitalista se aproprie da mais-valia dos proletários (salários baixos) para evitar perder o seu capital e se ver convertido ele em proletário. Antes bem é o Estado quem distorce a liberdade de produzir e comerciar, prejudicando as pessoas também enquanto trabalhadoras e consumidoras. Poderíamos falar desde Monsanto até o monopólio bancário, passando por comunicação, energia, e outros setores "estratégicos". Os oligopólios, onde se acumula o capital e o poder, distorcem a liberdade de mercado, e bloqueiam a entrada de competidores em complicidade com as estruturas políticas, que são a sua extensão apresentável em sociedade.
 
Aliás, internamente, as relações humanas ficam nas multinacionais e oligopólios facilmente condicionadas pola estrutura hierárquica piramidal, dando ocasião à corrupção e a degradação ética das pessoas. Um exemplo bem recente o temos no que foi o calote maciço das "preferentes" onde a decisão tomada de cima de estafar os clientes foi lançada através da estrutura vertical de mando até chegar aos vendedores de produtos financeiros, a quem lhes lembravam de passagem que o banco estava a passar por momentos difíceis e seria necessário prescindir de alguém, e que se iam fazer mais algo para além de estar todo o dia a tomar cafezinhos... Quando a base laboral da pirámide recebeu a ordem, e depois a fatura da hipoteca e de todos os demais créditos, sabendo também que o sector estava em crise e minguando, o comportamento ético destas pessoas assalariadas ficou em sério risco de vulnerabilidade. O principal ativo desse banco, a credibilidade da rede comercial, foi destruído. Algo semelhante acontece, como tem denunciado este jornal, nas "ajudas" governamentais aos oligopólios dos meios de comunicação, que em realidade priva às comunidades de pluralismo e liberdade de informação, favorecendo um condicionamento certo e na seleção e focagem do publicado polos jornalistas e colaboradores dos grandes meios, que com frequência ultrapassam os princípios básicos da deontologia profissional.
 
Que o poder corrompe é algo já sabido desde Platão. Que o sistema atual conduz à acumulação de capital e poder, não frente ao Estado, mas com a sua participação, é algo que estamos a descobrir ainda. Mas também há que considerar que, da mesma maneira que as organizações viram em corruptas polo efeito da acumulação de poder, de igual jeito, o funcionamento da estrutura do poder e os seus efeitos perversos criam relações de concorrência interna afinal destrutivas dentro das próprias organizações. O III Reich, ou a China post-revolucionária de Mao Zhe Dong, igual que todas as organizações carismáticas, inclusive as religiosas, têm nas suas origens um poder concentrado, o qual leva a uma estrutura de decisões arbitrárias que -como assinalara Weber- caso de não mudarem e adequarem os princípios à realidade, acabam dando lugar ao colapso. Se seguimos a pista de regimes autoritários que ainda existem, caso da China, que sobreviveu decisões ditatoriais erradas (como aquelas que causaram em 1958-1961 a morte por fome de mais de 36 milhões de pessoas) encontramos que o comportamento dos governadores chineses de hoje, pouco tem a ver com os de faz ainda quinze anos, que podiam mesmo fazer ostentação do seu poder. Ainda que continua a haver alá um Partido Único, a competência quando não ódio aberto entre os seus integrantes e fações leva com que os comportamentos tenham que ser quanto menos... mais discretos.
 
Não há futuro para o regime atual de concentração de capital e poder, baseado no "punho visível dos Estados", na expropriação da soberania das pessoas, e nos impedimentos à liberdade e oportunidades para empreender. Sobre tudo, porque é eco-tecnicamente inviável. Assim o pus de manifesto o estudo de Global Footprint Network, e já antes o silenciado informe do Clube de Roma, que vem de lembrar recentemente José Maria Viña. Mas também não tem futuro porque tem dentro a semente da sua destruição. No entanto, as pequenas e medianas empresas, as familiares e as cooperativas (as de verdade ambas, não as disfarçadas), estão em melhores condições para ré-orientarem o negócio, e também para criarem um universo de valores estável, e horizontalidade no fluxo da informação e das decisões. Isto -junto com outras condições de soberania que haverá que assumir e desenvolver- faz com que as pessoas ganhem e contribuam com valor nas empresas. Ao não serem absolutamente dependentes delas podem desenvolver comportamentos éticos, solidários e responsáveis. A economia e a pequena e mediana empresa tradicional, a cooperação e federação frente à competência e a absorção, muito ao contrário do que o sistema nos fez acreditar, é o futuro deste Pais, e talvez da Humanidade. O que necessitam não é nenhum favor, mas que as deixem nascer e existir: todo o contrário do que o Estado faz.

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Xosé Morell Nado em Vigo. Licenciado em Filologia galego-portuguesa e Hispânica. Master en Direção Comercial e Marketing pola EN Caixanova e en Direção Financeira e Contábil pola Universidade Autónoma de Barcelona. Atualmente em negócios de exportação. Padroeiro da Fundação Isla Couto. Foi Porta-voz no Parlamento da Galiza da ILP Valentim Paz Andrade para os vínculos da Galiza com a lusofonia aprovada e feita lei por unanimidade em 2013.