Esta frase do Evangelho de Mateus foi tradicionalmente utilizada para justificar a necessária não interferência directa da religião nos assuntos políticos temporais. Mas se situarmos os factos no seu contexto histórico para os interpretar e os valorar no presente, a frase pareceria indicar o contrário. Não só estaria a aprovar o pagamento de impostos, desde uma posição de neutralidade a respeito da ocupação romana, mas ainda se diria que está a constituir um mandato de contribuir ao "bem comum", é dizer, legitimaria a sociedade regida polo Império Romano e estabelecida segundo uns mecanismos que hierarquizam as relações humanas: a primeira "solidariedade" devia ser cara à Metrópole colonizadora (Roma) contribuindo com impostos e escravos ao mantimento e esplendor do centro do universo, à sua burocracia, à sua estrutura de dominação, e por suposto, ao seu exército. Em troca, todos os povos dominados haviam de ser redimidos pola cultura "superior" criada em Grécia e implantada polas legiões.