Por Maurício Castro | Ferrol | 15/09/2017
Quem já lá estivo –eu estivem há uns bons 26 anos– sabe que se trata de um país do chamado “Terceiro Mundo”, com graves restriçons no acesso a produtos de primeira necessidade e carências materiais importantes.
Porém, se nom quigermos ficar na caricatura liberal-reacionária, deveremos aprofundar na análise crítica na hora de interpretar aquela realidade, sem tampouco cairmos em idealizaçons fora de lugar.
A primeira exigência, em nome do rigor intelectual, será situar Cuba no ámbito que lhe corresponde, em termos nom exatamente geográficos, mas sobretodo atinentes à divisom internacional do trabalho no capitalismo mundial.
Com efeito, seria absurdo tentar comparar a situaçom de Cuba com a da Suécia, para assi defender o “modelo nórdico” frente ao “caribenho”. Cuba deve ser comparada com outros países da sub-regiom das Caraíbas, como o Haiti, República Dominicana, Jamaica… em parámetros como a proteçom social, desigualdade, saúde, educaçom, etc; descontando, claro, alguns refúgios fiscais e colónias da zona, com umha funçom muito determinada ao serviço do grande capital financeiro ou de determinados estados do centro do sistema.
A partir daí, com idêntico rigor, haverá que reconhecer, como a intelectualidade mais lúcida da própria Cuba fai, a impossibilidade de que um pequeno país como Cuba, com umha economia dependente e bloqueada há mais de 50 anos, poda atingir sozinha o comunismo.
Em lugar disso, admitamos que se trata de umha ambiciosa e heroica, mas limitada, experiência de transiçom para o socialismo, que enfrenta enormes dificuldades para conseguir manter os mínimos necessários que garantem ao conjunto da sua populaçom umha vida digna em todos os parámetros que a configuram como sociedade do século XXI.
Pouparei a quem me lê o repasso às diferentes e evidentes conquistas ao longo deste meio século de revoluçom, ficando só com a parte que, por motivos pessoais, mais me interessa: a proteçom a setores especialmente desfavorecidos. Refiro-me às crianças, às pessoas idosas e com doenças ou problemas de saúde que lhes tiram toda ou boa parte da autonomia pessoal para se desenvolverem nas suas vidas.
Som precisamente esses os setores mais bem atendidos polas instituiçons revolucionárias cubanas, dentro das limitaçons impostas polo bloqueio e polas carências económicas.
Um exemplo disso que afirmamos, e que contrasta radicalmente com outros países das Caraíbas –e nom só– é o que estamos a ver nestes dias com o Furacám Irma.
Os brutais furacáns que cada ano arrasam aquela área, incluindo os estados norte-americanos mais próximos, deixam saldos de dezenas, quando nom centenas de vítimas mortais e de pessoas desaparecidas.
Só um par de dados significativos: o Furacám Matthew deixou, há agora um ano, 842 mortes no Haiti. Provisoriamente, o Furacám Irma já fijo nos últimos dias mais de 25 mortes em diversos países caribenhos. Provavelmente o número venha a aumentar.
Nos dous casos, a humanizada e organizada Cuba, com a sua defesa civil ativada no seio da própria populaçom, nom tivo vítimas mortais, embora si importantes danos materiais. Além disso, enviou pessoal sanitário às ilhas vizinhas, para colaborar solidariamente com aqueles povos irmaos.
Atençom, nom estamos a dizer que Cuba consiga sempre a total autoproteçom da sua populaçom. Afirmamos, isso si, que a maior das Antilhas conseguiu suprimir a obrigatoriedade estrutural de que qualquer catástrofe ataque sempre e por definiçom aqueles setores mais desfavorecidos da sociedade, causando um grande número de vítimas, porque a proteçom de toda a populaçom e especialmente da mais dependente é o principal objetivo institucional.
Algo tam normal como pouco freqüente nesta pré-história da humanidade em que ainda vivemos.
O discurso dominante vende-nos que o custo em vidas humano devido a “catástrofes naturais” é inevitável. Graças a Cuba, com todas as suas limitaçons e problemas, sabemos que nom é bem assi e que um mundo ao serviço da humanidade é possível… mas só no socialismo.
PS: 24 horas depois de escrito este artigo, véu a confirmar-se a morte de 10 pessoas no centro da Ilha de Cuba, no que foi um dos mais devastadores furacáns na sua história. Julgamos que, tal como se dizia no texto, esses falecimentos nom questionam a tese defendida no mesmo: "Atençom, nom estamos a dizer que Cuba consiga sempre a total autoproteçom da sua populaçom. Afirmamos, isso si, que a maior das Antilhas conseguiu suprimir a obrigatoriedade estrutural de que qualquer catástrofe ataque sempre e por definiçom aqueles setores mais desfavorecidos da sociedade".