A profunda crise de legitimidade das forças políticas e sindicais identificadas plenamente com o modelo socioeconómico e a estrutura administrativa espanhola, é consequência da alteraçom da perceçom da natureza do regime entre setores sociais que até há uns anos matinham um elevado grau de identificaçom ou simplesmente nom o questionavam.
A receita ultraliberal da austeridade, implementada primeiro polo PSOE e posteriormene polo PP, como “soluçom” à grave crise capitalista emanada da economia especulativa e parasita, agravada pola alarma social derivada da parcial difusom das dimensons da corrupçom geralizada, está na origem do ciclo de mobilizaçons populares do último quinquénio.
O inicial desconcerto e preocupaçom do regime perante o incremento parcial da radicalizaçom de amplas camadas populares, mas também entre fraçons intermédias proletarizadas polos letais efeitos dos diktames da troika, tem sido habilmente gerido mediante um conjunto de arriscadas operaçons que até o presente tenhem atingido o primordial: evitar a desestabilizaçom da segunda restauraçom bourbónica instaurada na segunda metade da década de setenta do passado século.
Economia de mercado ultraliberal, pseudodemocracia burguesa e férrea centralizaçom administrativa tenhem sido os três eixos do sistema emanado da constituiçom espanhola de 1978, causantes do agravamento do atraso e marginalizaçom da Galiza e portanto do empobrecimento e sobre-exploraçom do povo trabalhador galego.
As declaraçons e promessas de reforma constitucional que intermitentemente lança a esquerda institucional espanhola e o social-liberalismo de Pedro Sánchez, nom som mais que cortinas de fumo que nunca se plasmarám ou nom passarám de maquilhagens. Estratégia eficaz para frear as esquerdas independentistas das naçons oprimidas por Espanha.
Perpetuar quatro décadas mais a estabilidade política da democracia postfranquista é o principal objetivo que persegue o capitalismo espanhol e a Uniom Europeia para manter a fabulosa taxa de ganho da burguesia baseado na existência do quadro espanhol de acumulaçom e expansom de capital.
Com o intuito de quebrar ou polo menos atrasar a radicalizaçom de segmentos populares e a consolidaçom de umha alternativa revolucionária com implantaçom de massas, até o momento tenhem sido fundamentalmente cinco as medidas adotadas para lográ-lo:
Facilitar mediante a sua promoçom mediática o desenvolvimento do denominado 15M em maio de 2011. Esta branda “primavera árabe” em forma de movimento social pacífico envolveu a milhares de pessoas sob um programa regeneracionista que nom questionava os alicerces do bipartidarismo, dotado de um difuso e inconcreto programa neokeynesiano para melhorar o “sistema democrático”, sempre desde umha óptica refratária ao questionamento do paradigma centralista espanhol.
A cultura política emanada do 15M facilitou o desenvolvimento e fortalecimento das tendências individualistas, carregadas de enorme ingenuidade sobre as margens reais de poder mudar o sistema desde o interior empregando as suas regras; das cidadanistas que negam e/ou desprezam o papel das organizaçons da esquerda política e social (partidos revolucionários e reformistas “radicais”, e dos sindicatos de classe) dificultando a sua intervençom e confluência com e nos movimentos sociais; do eleitoralismo que inicilmente repudiavam boa parte dos agentes com peso no seu seio, muitos procedentes do esquerdismo libertário e/ou trosquista; e um novo impulso das conceçons postmodernistas instaladas no imediatismo e presentismo, contrárias à confluência e encadeamento das luitas setoriais, negadora da centralidade da luita de classes e das possibilidades de umha genuina ruptura democrática mediante a tomada do poder, nutrindo assim os fetiches do espontaneismo, da infantil crença do “imenso poder” das redes sociais na internet para promover umha mudança social.
Após o ordenado desmantelamento do 15M iniciado ao final do verao de 2011, fruto da aplicaçom do silêncio mediático, da perda de pespetivas e vigor pola frustraçom de nom ter atingido os objetivos perseguidos e polos adversos resultados das eleiçons em 17 comunidades autónomas em maio, e posteriormente nas gerais de novembro, onde foi rivalidado o monopartidarismo bicéfalo com a maioria absoluta de Rajói, o movimento obreiro de forma efémera voltou a recuperar a iniciativa mediante a exitosa greve geral de março de 2012.
Mas nom passou de umha miragem, pois o espíritu “indignado” do 15M mantivou-se mediante convocatórias esporádicas a escala estatal na forma de marchas, celebraçons do aniversário e outras iniciativas de ámbito europeu.
Na Galiza a irruçom eleitoral da AGE -como coaligaçom entre a dócil IU, os setores falsamente ruturistas cindidos do BNG e o “independentismo” fascinado com as estrategias de Madrid-, certificava o “êxito” da renúncia ao princípio da auto-organizaçom do povo galego.
Mas, perante a continuidade de esporádicos capítulos de radicalizaçom popular foi necessário desenvolver outras estratégias para quebrar o ciclo ascendente de luitas. Deste jeito foi promovido de forma artificial e deliberada o descrédito do Rei Juan Carlos arejando os seus obscenos negócios multimilionários como intermediário, a corrupçom que envolve a família real, as consequências hospitalares das suas cacerias de luxo, as relaçons adúlteras … visando desviar a atençom sobre os demoledores efeitos da crise entre a juventude, as mulheres e a classe trabalhadora. Com a sua forçada abdicaçom no seu filho em junho de 2014, o regime do Ibex 35 logrou calmar e arrefecer as águas.
Endurecimento da legislaçom visando impossibilitar o desenvolvimento e radicalizaçom das luitas populares. Nos últimos cinco anos o Estado espanhol realizou contínuas mudanças do Código Penal. Aprovou um conjunto de leis de excepçom nas que a de “Segurança Cidadá” ou lei mordoça é a mais recente. Tem multiplicado a capacidade repressiva das forças policiais com um claro objetivo: dotar-se da força suficiente para evitar qualquer conato de revolta ou levantamento popular e disuadir o povo trabalhador das consequências de defender na rua os seus direitos e conquistas.
A criaçom em janeiro de 2014 de Podemos como nova força política que representava o espíritu do 15M foi a mais arriscada operaçom do regime para lograr estabilizar e domesticar o malestar social. O partido fundado por un reduzido núcleo de professorado universitário madrileno, e apadrinhado pola seçom espanhola do Secretariado Unificado da IV Internacional, para concorrer as eleiçons europeias de maio desse ano, logra um inesperado resultado atingindo mais de 1.200.000 votos no conjunto do Estado, superando os 84.000 na Galiza.
Este fulgurante e espetacular êxito conseguindo 5 eurodeputad@s está mui vinculado a intensa promoçom da figura de Pablo Iglesias polos mais importantes e influintes meios de comunicaçom privados espanhóis, propriedade dos principais grupos capitalistas.
Mas os prognósticos sobre as ilimitadas intençons eleitorais que situárom a Podemos como alternativa viável ao PP/PSOE no verao passado, tocárom teito quando o sistema que promoveu o seu fulgurante desenvolvimento chegou à conclusom que já tinha sido suficientemente funcional para adormecer, neutralizar, desativar e encarrilar o movimento de massas pola via eleitoral.
Porque Podemos foi concebido como um plano B provisório perante o intervalo aberto de consolidaçom de um novo liderato e recuperaçom eleitoral do PSOE, logo do descalabro da etapa de Rubalcaba.
Mas também como o melhor instrumento para a reatualizaçom discursiva do nacionalismo espanhol visando frear o processo independentista catalám, seguir conduzindo o residualismo à esquerda patriótica galega após as mutaçons estatalistas do beirismo e do ferrinismo, e dificultar manter o seu importante poder institucional à renova esquerda abertzale do País Basco resultante da sua capitulaçom e cumha clara orientaçom socialdemocrata e eurocomunista.
Mas também estalar a lenta, mas sostida recuperaçom eleitoral de IU.
Logicamente este tipo de operaçons políticas nom estám exentas de contradiçons e contínuos reajustamentos, pois as dinámicas sociais nom podem ser controladas completamente polos poderosos aparelhos de dominaçom da burguesia.
A dia de hoje todos os indicadores objetivos, mas também subjetivos, coincidem em que Podemos está em declive porque o regime achou umha alternativa mais fiável e com menos custos de desestabilizaçom: Ciudadanos. O populista partido de moderno e sofisticado discurso neofalangista de matriz catalana está evitando que os setores conservadores desencantados polas políticas antisociais do PP e antigos votantes da gaivota nom se desloquem a Podemos e à abstençom. A sua lealdade aos interesses da oligarquia espanhola é inquestionável.
Mas também polos graves erros derivados da prepotência do todo poderoso secretário-geral de Podemos que converteu o que inicalmente foi apresentado como umha formaçom política alternativa aos “partidos da casta”, horizontal, assemblear e respeituosoa com o pluralismo, numha convencional maquinária eleitoral hipercentralizada, onde se dificulta a discrepáncia pública, dotada de umha milimetrada linha discursiva populista, de orientaçom socialdemocrata e de reafirmaçom do projeto imperialista espanhol, que só procura a toda custa umha imediata vitória eleitoral. Em pouco mais de um ano e meio Podemos perdeu o encanto inicial que seduciu a muita gente para mostar a sua verdadeira face: um PSOE 2.0.
Embora o fenómeno Podemos na Galiza está em declive pola arrogáncia dos seus líderes madrilenos nas suas relaçons com os que seguem sem confiar nas capacidades e potencialidades do nosso povo, e pola mediocriadade e incapacidade política dos dirigentes da franquícia galega, ainda tem suficiente combustível para seguir cumprindo um papel destacado no tabuleiro político dificultando a recuperaçom da esquerda independentista e a necessária refundaçom da esquerda patriótica galega.
Os resultados das eleiçons plebiscitárias de setembro na Catalunha, a fórmula final que adote a sua candidatura na Galiza, o nível de recuperaçom do voto do PSOE e do PP nas eleiçons gerais do imediato outono, as consequências sociais do endurecimento das medidas de austeridade e empobrecimento das receitas socioeconómicas de Berlim e Bruxelas, a esperada recuperaçom da rua como espaço central de luita e acumulaçom de forças frente o agravamentro da crise sistémica do capitalismo senil, som factores que condicionarám o futuro do partido de Pablo Iglesias.
A recente leiçom da traiçom do governo da Syriza ao povo grego volta a deixar claro a impossibilidade de transformar o sistema pola via eleitoral burguesa, o papel colaboracionista da socialdemocracia com as políticas ultraliberais, o papel asignado a estes novos partidos para dificultar o desenvolvimento da alternativa comunista, o enorme erro de alimentar o ilusionismo eleitoral como tarefa prioritária da esquerda transformadora.
Porque enquanto aqui e agora, lamentavelmente, o debate se centra nas fórmulas de como articular umha candidatura eleitoral galega cujo objetivo per se semelha ter presença nas Cortes espanholas, a classe obreira galega está desativada, invisibilizada polas inofensivas alternativas cidadanistas hegemonizadas pola pequena burguesia, carece de iniciativa política, de referencialidade, e portanto o povo está desarmado para fazer frente à mais feroz ofensiva contra nós.
Sem dotar-se de umha ferramenta política de classe seguirá sendo simples massa eleitoral do oportunismo, atualmente em plena disputa pola hegemonia entre as forças tradicionais e o emergente cidadanismo vaziado de povo, articulado à volta de figuras do mundo da cultura e do espectáculo, que pretendem substituir a legitmidade das organizaçons políticas e sociais e da sua trajetória e legado de luitas polos seus sucessos editorais e televisivos.
Até que o proletariado galego consiga consolidar a construçom de um influinte partido comunista combatente, patriótico e revolucionário nom terá possibilidades de escolher entre as limitadas alternativas eleitorais hegemonizadas polo populismo socialdemocrata espanhol e umha esquerda nacionalista incapaz de desprender-se do curtoprazismo eleitoral e sem a suficiente coragem para adotar as decisons estratégicas que mais cedo que tarde irremediavelmente deverá assumir.
Mas frente o pesadelo neoliberal e a demoliçom da Galiza a verdadeira alternativa para lograr umha Pátria nova com justiça social e liberdade nom provirá de aí. A esquerda independentista tem que perserverar na construçom a sua própria alternativa política e contribuir ao deslocamento da esquerda nacionalista face posiçons soberanistas e de ruptura democrática. Para lográ-lo é necessário manter firme o leme com audácia e generosidade, tecendo pontes de colaboraçom.