Artigos de Joam Evans Pim

Processo desconstituinte e autogoverno comunitário

Frente as tentativas desesperadas para dar continuidade à engrenagem estatal, representadas com as proclamas verbais por um processo constituinte e a banal retórica de participação e democracia real, está na hora de reconsiderar as alternativas que oferece este particular momento histórico de crise sistémica e colapso energético. Frente a via que procura incrementar ainda mais a dependência das pessoas do estado e do capitalismo (ilustrada por projectos como a renda básica universal) e fabricar uma nova legitimidade estética para as suas instituições totalitárias, cumpre desenvolver a independência desde abaixo minando a legitimidade e autoridade que nós próprias conferimos ao estado que nos domina. Não pode haver ruptura democrática se há continuidade do estado e, portanto, negação da democracia.

As nossas repúblicas

Os superficiais debates sobre a adoção de uma fórmula monárquica ou republicana para o Estado espanhol são evidência da trivialidade imperante no discurso político atual. Numa Europa onde as diferenças entre Estados nominalmente republicanos e monárquicos são insignificantes no que ao (nulo) poder político das pessoas e comunidades diz respeito, o debate deveria estar entre a continuidade do ente político Estatal, tal é como hoje se apresenta, e a criação de verdadeiras alternativas que nos permitam lidar com os nossos problemas e desafios futuros.

Culpável

Todo o mundo sabia que o Carlos era a todas luzes culpável. Culpável de rachar com a inércia mental do nacionalismo monolítico introduzindo ideias pouco conhecidas como o municipalismo libertário ou o confederalismo democrático, base para uma nova era de resistência pacífica no Curdistão.

Satélites fora de órbita

Seica há nalgum lugar uma lei física não escrita segundo a qual os partidos políticos devem operar como forças gravíticas que mantêm na sua órbita múltiples satélites, organizações cautivas dos seus desígnios, estratégias e lideranças. Por vezes a força gravitatória é um aparato, uma elite; por vezes é uma figura messiânica a que gera a órbita heliocéntrica. Numa dessas raras noites estreladas que houve esta primavera deu para ver aqui na aldeia, longe das luzes da urbe, vários desses satélites na sua trajetória típica.

Fim da justiça rural?

Houve um tempo, não muito longíquo, no que eram as vizinhas de cada couto, de cada paróquia, as que periodicamente, frequentemente cada ano, elegiam em assembleias entre as suas iguais um "juíz", "repúblico" ou "homem" ou "mulher de acordo", para atuar como mediador e conciliador entre as partes nos conflitos que com frequência apareciam entre a comunidade.

Sempre Astúrias

A família é a família. Duas notícias recentes de nossos primos-irmãos asturianos merecem algum comentário, dado que ninguém parece ter-se feito eco delas: o recurso de insconstitucionalidade à "Lei Montoro" do Governo das Astúrias defendendo o rango estatutário da personalidade jurídica das paróquias e a improvável mas aparentemente real coligação entre BNG e o partido galegófobo Andecha Astur.

Carta de natureza

Com a aprovação unânime polo Parlamento da Galiza da "Lei Paz-Andrade para o aproveitamento da língua portuguesa e vínculos com a Lusofonia" durante a sessão plenária de 11 de março o galego "extenso e útil", em palavras de Castelão, conhecido polo mundo adiante como "português" ganhou carta de natureza a Norte do Minho inaugurando um novo período para a língua.

Uma Europa das paróquias

Chegando as eleições europeias prolifera o mantra "Outra Europa é possível". O problema é que essas outras Europas raramente acabam por ser muito distintas da atual: uma "federação" de Estados na que pessoas e comunidades naufragam num mar dominado polas elites burocráticas, os políticos profissionais e os lobbies corporativos, frequentemente indiscerníveis. É normal: as visões da Europa não deixam de ser uma extrapolação da ideia que cada um tem para a sua "casa".