Gartxot é umha história mui bem contada. Ás vezes é como um sonho, com gente a falar em latim, ocitano e euskera e palavras em galego impresas sobre a neve. Começa o filme assi: tu sentas na butaca e de súbito aparecem palavras e palavras, e tu entre elas, com a boca aberta.
Aginha ladram os cans, a águia chia, a curuja ulula. Gartxot é umha história sobre a comunicaçom onde falam as persoas, os animais, as cousas.
Gartxot é um dos episódios do mundo ao revés. Sobre essa gente que fai desaparecer nomes de lugares e proíbe línguas. De como Orreaga passa a ser Roncesvallis, de como o latim avanza pola força cara ás cordas vogais de Mikelot. Nas cordas vogais de Mikelot decide-se o futuro dum povo, nas cordas vogais de Xune lateja a rebeldia e a liberaçom. As suas bocas som um pais onde combatem a vida e a morte, o optimismo e a frustraçom, a decepçom e a esperanza.
Por isso Gartxot tamém é, salvando as distáncias, umha explicaçom da Galiza actual.
O bardo Gartxot nom pode ficar calado. Canta, Gartxot, canta!, pede-lhe a vizinhanza. Canta-nos a nossa história! Lembra-nos o nosso passado! E vemos a revoarem entre a gente as palavras clandestinas e proibidas de Gartxot.
Xune é umha moça de pelo violeta que sobe á montanha ao lombo dumha cabra negra pola neve. Ela nom fala do passado, ela canta o presente, construe-o com as suas palavras. As suas palavras som a chave do futuro. Um futuro para o nosso passado, que diria no filme Txepetx, o sociolingüista, que havia de ser aquel pastor amável na beira do rio.
Gartxot pode-se converter no filme com mais versons em línguas minorizadas do planeta, desde o nosso galego ou portugués da Galiza até o curdo, passando polo corso e o bretóm. Asisko Urmeneta, um dos directores deste filme de animaçom,que estivo em Compostela para lançar o filme na Galiza, tamém quere que o seu filme esteja em checheno, em guarani, em suómi...
Seria mui interessante investigar até que ponto muitos galego-falantes compartimos muitas cousas -ideias e emoçons, basicamente- com alguém que fala maori em Nova Zelándia ou quéchua no Peru que nom compartimos com o nosso vizinho do 4º A.
Gartxot é umha história sobre um dos grandes temas universais: os procesos de conquista e desconquista. Asimilaçom, colonizaçom, alienaçom, imperialismo. Gartxot será um símbolo para as línguas e os povos em proceso de liberaçom nos cinco continentes, África incluída.
O dia que fum ver Gartxot havia no cine um filme "galego" de animaçom... projectado em espanhol...
Gartxot chegou á Galiza por iniciativa dumha mao de gente que, desde a precariedade e o underground, desde Euskal Herria, nos fai umha chamada a participar na creaçom internacional dum imaginário coletivo. O da resisténcia e a criatividade das línguas e dos povos minorizados. Porque Gartxot nom é só um heroe que a tradiçom oral legou ao povo basco desde o passado. É muito mais: um conjunto de persoas de carne, óso e desenhos animados para construír o presente, sempre em presente, .
Gartxot é umha história com mulheres. Ao sairmos do cine, Bea e Paulo falarom de secundarizaçom das mulheres. Rocio falou um montom de tempo com Asisko sobre as mulheres de Gartxot. A mim parecerom-me mui interessantes, nesta história de clásico heroe masculino,os papeis da nena de pelo lila, Xune, e da mulher sábia. Mas gostaria de falar sobre as mulheres de Gartxot com Maria Reimóndez a tomar um café ou com Isaura e Púri, a ver que pensam elas. Vós ide indo olhar Gartxot e logo falamos, vale?
Em todo caso, telefono a Asisko Urmeneta, que já estáde volta em Iparralde, e pergunto-lhe -
- Que pensas sobre as mulheres no filme? Em quatro linhas... - E el, di-me...
- Em Gartxot as mulheres representam, entre outras cousas, a transmisióm, algo do que Arturo Campion -o recuperador da lenda do bardo há mais de cem anos- já se dera conta: nom podemos contar a história, nem as suas historias, prescindindo dum dos géneros. Em Gartxot as mulheres som clave, passando a primeira linha, protagonizando, a transmisióm da civilizaçom. Já me passei das quatro linhas?
- Obrigado, Asisko, por todo!
Um colega um pouco inocente e bem intencionado, um pouco ridiculista, enviou esta carta ao director dum dos jornais da cidade. Um puro fake, vaia. Evidentemente, nom lha publicarom. Mas é mui interessante pola sua contralógica:
Una película anti-jacobea
Toda mi indignación la envío en esta carta. Llamado por la radio gallega y mi afición a la historia de nuestra ciudad, y del Camino, me acerqué al cine para ver Gartxot, una película de dibujos animados en vasco - subtitulada en gallego... Si la traducen, por cierto, el título deberia ser Garchot, no? La película es un alegato contra la Iglesia, para empezar. Secuestro de niños por frailes, torturas en el convento, herejías... Se cuestiona incluso el nacimiento santo de Roncesvalles. Una película increíble, sí, con una supuesta invasión de Navarra por la lengua latina y, en el colmo de la inverosimilitud, incluso aparecen vascos haciendo el amor! Y perdonen el chiste fácil. En fin, esta película es una ofensa a nuestra ciudad. Y solicito a quien sea responsable que se retire de nuestros cines. Me pregunto yo si esta película tiene subvención de la Xunta. Intolerable.