Eleiçons e transformaçom, umha articulaçom pendente (e necessária)

Nos últimos dias, vejo antigos camaradas, companheiros e outras pessoas a autojustificarem as respetivas decisons de voto diante da convocatória espanhola de eleiçons deste domingo, que é vista, outra vez!, como excecional.

Por Maurício Castro | Ferrol | 18/12/2015

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Alguns vendem-nos o simpáticos e compreensivos que som os cidadanistas espanhóis com os direitos do nosso povo. Outros recorrem ao pobre Lenine para nom se sabe bem o quê, ou ficam na cómoda indefiniçom repetindo as palavras de ordem de serviço.
 
Em todos os casos, tentam dramatizar a importáncia da convocatória, como se estivessem em jogo grandes cousas e a via eleitoral fosse a que dirime, a única capaz de confirmar ou corrigir a dinámica de destruiçom de direitos e a imposiçom do programa de máximos de um espanholismo neoliberal desbocado.
 
Eu gostava de fugir da autojustificaçom, sem por isso evitar um pronunciamento explícito. Isso porque pouco importam a minha ou qualquer outra opçom pessoal. Importam as posiçons e tendências coletivamente verificáveis.
 
Daí que, em lugar de qualquer discurso autojustificativo, recorra ao que considero umha prática mais legítima: a apologia das próprias posiçons e compromissos políticos em termos coletivos, como parte de aquilo que umha parte maior ou menor do nosso povo defende.
 
Considero a batalha eleitoral um ámbito auxiliar de intervençom por parte da esquerda política, cujo peso na atividade de qualquer agente coletivo é indício do seu compromisso real na transformaçom social.
 
Quando umha candidatura qualquer nos vende, quer de maneira teorizada e explícita, quer nos factos da sua praxe, que será por via eleitoral que realizará as profundas transformaçons que o nosso país necessita, fico logo de pé atrás e perdo qualquer confiança no que vinher a seguir. 
 
Estou cada vez mais convencido de que nom é no terreno eleitoral, nem nos parlamentos, que se decide a orientaçom das políticas económicas, sociais, culturais... de qualquer povo. Nunca foi e nunca será, mas ainda menos no caso de um povo sem instituiçons próprias soberanas, como é o nosso.
 
Isso nom significa que deva ser desprezada a participaçom nessas instituiçons, mas sim significa que em nengum caso deve contituir o principal campo de jogo para a intervençom revolucionária. Cousa diferente será no caso das forças assumidamente sistémicas, que sim poderám aplicar programas reformistas, na condiçom de em nengum caso afetarem o substancial do sistema.
 
Os parlamentos nom criam nem transformam nengumha realidade social. Som unicamente umha expressom jurídico-política dessa realidade, daí que a transformaçom social, e nom a representaçom parlamentar, deva ser sempre umha prioridade para quem realmente aspira à mudança de fundo. O contrário corresponde com o que hoje vemos, por exemplo, na minha cidade, onde contamos com um governo dito “ruturista” incapaz de tomar umha única medida que seja minimamente transformadora no ámbito municipal ferrolano. 
 
O ruturismo cidadanista nom passa, lamentavelmente, de umha casca vazia mantida polo márketing e alimentada por um descontamento social incapaz de se expressar em termos realmente 
transformadores.
 
Estaria disposto a votar em qualquer força galega e de esquerda que admitisse e, sobretodo, praticasse, essa verdade, que sempre julguei incontestável. Por isso acho que nom vale a pena votar em quem fai da intervençom eleitoral a sua principal frente, quando nom única, de trabalho político.
 
Infelizmente, na Galiza atual nom existe nengumha força que cumpra as expetativas mínimas para a transformaçom social do nosso país. Ao contrário, o eleitoralismo é tam importante em todas elas que a desvinculaçom eleitoral converte qualquer simpatizante ou militante crítico em automaticamente suspeito, quando nom inimigo, de umhas siglas criadas e alimentadas só por motivaçons eleitorais.
 
Há que continuar a defender no dia a dia a construçom dessa força, que aposte a sério na transformaçom, na independência, no socialismo e no feminismo, sem abandonar o trabalho eleitoral, mas situando-o na segunda ou terceira fila das prioridades.
 
Até aí, a minha opçom será, como quase sempre, a maioritária do nosso povo: a abstençom.

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Mauricio Castro Maurício Castro nasceu en Ferrol en 1970. Licenciado em Filologia Galego-Portuguesa pola Universidade de Compostela, dedica-se profissionalmente à docência de Português. É autor de diferentes ensaios, sobretodo de temática lingüística e sociolingüística, como a História da Galiza em Banda Desenhada (1995), Manual de Iniciaçom à Língua Galega (1998), Galiza e a diversidade lingüística no mundo (2001), o Manual Galego de Língua e Estilo (2007) ou Galiza vencerá! (2009). Primeiro presidente da Fundaçom Artábria.