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Um galego na corte do rei Kamehameha

Resenha de "Sempre em Waikiki", a obra de estreia de Suso Samartinho. Por Joan-Marc Passada i Casserres.

Por admin | Compostela | 25/01/2025

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Para aqueles de vós que pensavam que esta poderia ser mais uma crítica-massagem, queria começar o artigo escarnecendo o autor fazendo uma befa literária do título, tal e qual ele faz no seu livro: Suso Samartinho atreve-se a batizar a sua obra de estreia, "Sempre em Waikiki" (SeW), com uma teatral reverência ao político galego Alfonso R. Castelao e à sua obra mais conhecida:  "Sempre em Galiza", a "Bíblia" do nacionalismo galego contemporâneo. O título-homenagem e o não conseguir tirar da cabeça as ilhas Hawai'i, como acontecia a Castelão com a Galiza, são os elos principais que o escritor-viajeiro faz entre uma obra e outra. A tipografia "castelaina" do título e a composição da obra em "três livros" são dous "bônus tracks" com os quais o novel escritor de Bueu, remata a sua dedicatória "sui generis" ao pai da pátria galega.

Capa do libro Sempre em Walkiri, de Suso Sanmartinho
Capa do libro Sempre em Walkiri, de Suso Sanmartinho

As crónicas galegas de Samartinho polo Hawai'i, juntamente com a sua inseparável Carme, entram sem nuances dentro do género da literatura de viagens. Nem sequer falta, como em qualquer bom diário de bordo, a chamada "viagem interior". "Sempre em Waikiki" é uma lideira onde o autor rasteja por todo o arquipélago polinésio, os passos do famoso rei nativo Kamehameha I, o Grande. Para consegui-lo, embarcará, como se não houvesse amanhã, numa espécie de quimera genealógica à procura dum Santo Graal entre palmeiras e vulcões. O tal repto leva-o a um clímax de reflexões político-filosóficas que desembocam numa conclusão final, com o objetivo de, nem mais, nem menos, encontrar a fórmula infalível para libertar, para sempre, a comunidade nacional galega do seu jugo colonial. Uma revelação que o autor define como a "epifania" da que, logicamente, não vou revelar os detalhes.

Para chegar a este "grand finale" os leitores terão de contornar a narrativa sincopada de uma corrida de obstáculos, de ilha em ilha (as sete do Hawai'i, mais uma de gorjeta) digna de 'Los Autos Locos', mas que poderão abrandar se quiserem, parando nalguma das suas interessantíssimas 210 notas de rodapé e nas não menos transcendentais 283 notas finais, após o epílogo do livro. A crónica é uma passada a limpo, duma outra crónica anterior, datilografada ao vivo (hora de 'Midway'), em versão digital e a ritmo de garagem: abundam, de quando em vez, fotos-eu-estive-lá, histórias vividas, piadas muito boas e outras pra suicidar-se, anedotas  suculentas e descrições a torto e a direito, resumidas com hiperligações para-saber-mais, posts no Facebook (com comentários dos seguidores incluídos!) e mesmo 'trackings'  de distâncias de carro e a pé do Googlemaps.

Quando se filmar "Sempre em Waikiki" (o filme) protagonizado por Luís Tosar e Maria Luisa Mayol, nos papéis de Suso e Carme, imagino-a com uma banda sonora a toda castanha, composta por Chayanne, Toreros Muertos, Zeca Afonso, Israel "Iz" Kamakawiwo'ole, Manolo Escobar, Beatles, Os Resentidos, Chico Buarque, Rodolfo Chikiliquatre, The Crickets, Siniestro Total,  Aline Barros, Mecano e Caetano Veloso, entre outros autores e grupos que se citam no livro.

À espera da versão catalã, o livro está originalmente escrito num muito acessível galego-português ou galego reintegracionista, cum glossário e tudo para galegos-isolacionistas. Além disso, a catalonofilia/fonia do autor faz com que encha o livro de referências catalãs, tendo conseguido atrair a atenção dum outro autor filo-havaiano de nosso, Màrius Serra, que lhe dá a alternativa com um prólogo de cumplicidade tiki-galaico-catalã. Mahalo, vervíbors!.

Màrius Serra (esquerda), prologuista catalán do libro Sempre em Walkiri, de Suso Sanmartinho (dereita)
Màrius Serra (esquerda), prologuista catalán do libro Sempre em Walkiri, de Suso Sanmartinho (dereita) | Fonte: remitida

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