Por Ramón Varela | Ferrol | 26/04/2016
Naquela altura manifestaram que não era necessário porque tinham direito a grupo próprio de acordo com a legislação em vigor, e ameaçavam com denúncias aos partidos que não acedessem a facilitar-lhe este objetivo. Á última hora apresentaram um acordo entre as elites dos partidos, sem participação nenhuma da cidadania, com grande surpresa da Coordenadora Iniciativa pela União que estava á espera de que o Encontro por uma Maré Galega tomasse uma resolução de ir ou não coligadas. Entendo que estes são os factos objetivos.
Vão transcorridos quatro meses depois das eleições, período por certo nada desprezável, e agora parece que a história se vai repetir de novo. Tanto IU como Podemos não aceitam o partido instrumental, não vai haver primárias e tão-pouco vai haver grupo próprio para uma eventual candidatura galega, que, suponho, se chamará também Em Maré, mas só a nível eleitoral. Isto obedece a que quando se misturam componentes heterogêneos e com interesses contrapostos a conflituosidade está servida mais bem cedo que tarde. Todo soa a desculpas de mal pagador, porque um partido instrumental pode inscrever-se em mui pouco tempo; aliás, em caso de ser certo, denotaria uma falta enorme de previsão e uma tardança excessiva na tomada de decisões, que põe em questão a sua aptidão resolutiva e a sua capacidade para representar os cidadãos.
Creio que seria insensato culpar a IU e a Podemos de que defendam o que de facto defendem, que é a fortaleza do seu grupo em Madrid e a marginação de vozes discrepantes que alterem a suas respetivas folhas de rota. Estes dous partidos são organizações políticas espanholistas, que pretendem, como todo grupo político, aceder ao poder e governar para todo o Estado desde a capital do reino. Isto implica que têm que dotar-se duma dinâmica própria e dumas políticas que lhe permitam alcançar os seus objetivos. Ë assunto doutros que aceitem dinâmicas para eles suicidas, aceitando os seus postulados. Por outra parte, considero que Podemos, e também IU, defendem, pelo menos de momento, uma política muito mais democrática no referente á questão territorial que os demais partidos espanhóis. Neste sentido, creio que os partidos nacionalistas teriam um interlocutor mais dialogante com quem tratar, mas outras cousa distinta é esperar a que estas formações espanholistas venham altruistamente a resolver os problemas de encaixe no Estado dos catalães, bascos e galegos.
Anova é o principal prejudicado por esta dinâmica e quem mais vai sofrer as conseqüências porque, de facto, já se converteu num apêndice de Podemos e falta só que seja engolida definitivamente, numa deriva que vai ser imparável. Como vai justificar agora ante o eleitorado que lhe negam um grupo próprio precisamente os seus coligados? Como se vão sentir no rol de sacristães do Sumo Sacerdote Iglesias? Vão dar agora golpes nos bancos do próprio grupo? Dentro de pouco tempo, os membros de Anova serão como os galeguistas históricos dentro do PSOE, pessoas ao mando do amo madrilenho que lhes permitirá que emitam alguns eflúvios verbais intranscendentes de tom galeguista. A política, a nível do Estado vai vir totalmente cozinhada desde as altas esferas e o seu rol vai ser dizer amém.
Mais grave ainda: as cousas não se apresentam melhor para as eleições galegas. Podemos diz que ainda não sabe se participará com eles, e, se o faz, tão-pouco garante que o candidato seja uma pessoas de caráter galeguista, como o juiz Luis Vilhares, que, por outra parte, pouco poderia fazer se a política lhe vem determinada. O que está claro de todo este panorama é que Anova veio ressuscitar o nacionalismo espanhol de esquerda em Galícia, que estava moribundo, e agora pode comprovar que é o principal perdedor nesta operação política, que alguns tanto criticamos desde o primeiro momento, apesar de que não temos, como parece que outros si têm, nenhuma iluminação especial que nos permita adivinhar o futuro.
A situação de Compromisso por Galiza é também problemática, porque até agora não foi capaz de achar um espaço político diferenciado dos demais e optou por escorar-se também cara á esquerda em vez de ocupar um espaço de centro e centro-esquerda moderado. Ante a tessitura de desaparecer como organização diferenciada integrando-se nas Marés ou resistir para conservar o seu perfil próprio, optou por esta última alternativa, mas a decisão saldou-se com a sangria duma quantidade importante de militantes. Julgo que a eleição foi acertada se decide completá-la com medidas de câmbio de dirigentes e de políticas para incidir num sector distinto da população que até agora não tem nenhuma formação que o represente. Desejo-lhes muito êxito nesta operação.
Os militantes que abandonaram o partido já falam de colaborar com as Marés e construir um novo partido após as eleições, numa deriva mais cara ao minifundismo político, expoente do minifundismo parcelário e do minifundismo intelectual que esteriliza e abate todas as iniciativas generosas que visam transformar da realidade nacional galega. É necessária a confluência das pessoas preocupadas pelo futuro do nosso país para constituir um partido forte de esquerda e um partido forte de centro, renunciando ao protagonismo pessoal em bem do grupo e em aras de lograr o objetivo final, que não é outro que dar-lhe um status político distinto ao nosso país que faça possível um melhor estado de bem-estar para os cidadãos galegos.
O BNG, que teve a virtude manter-se fiel a um projeto, também está numa situação delicada após sofrer múltiplas cisões no seu seio por não ser capaz de dotar-se duma política aglutinadora e ilusionante. Parece que está meio paralisado e que não sabe que caminho tomar. A famosa refundação não se sabe em que vai desembocar, e a confluência com outras organizações vai quedar deserta porque não há atores solventes ao outro lado do fio com os que confluir para constituir um partido forte. Atualmente é uma organização que não produz entusiasmo, e, como dizia Hegel, sem entusiasmo nada se fez importante no mundo. Teriam que analisar as causas dessa desafeção e ser capazes de abrir-se de novo á sociedade para que os visse como um projeto de futuro e de câmbio, necessário para o país.