Por Ramón Varela | Ferrol | 30/09/2016
A máxima responsável do nomeação de Sánchez foi a líder andaluza Susana Diaz á que parece que alguns a consideram, critério compartilhado por ela mesma, como um gênio da política, apesar de que até o momento não tiver feito nada de especial relevância e se dedica-se a espalhar trivialidades urbi e orbe. Caracteriza-se por ser da tendência mais conservadora e jacobinista do partido, e por amostrar uma grande animosidade contra Podemos. É, sem dúvida, a mais favorável a pôr em marcha a grande coligação, seguindo as diretrizes de Felipe González.
Eu nunca fui partidário de Pedro Sánchez, mas si observei que o partido ia á deriva sem rumo a nenhuma parte, mas, reconhecendo que ele fosse o responsável da desfeita, a primeira á que pediria responsabilidades é a líder andaluza, porque eu considerava que Madina era um candidato melhor para dirigir o partido. Pediria também responsabilidades ao Comitê Federal por ter-lhe posto um corpete a Pedro Sánchez, na reunião do 19 ou 30 de dezembro de 2015, para que não pudesse pactuar nem com populismos, eufemismo malévolo para referir-se a Podemos, nem com o PP, nem com independentistas, ou seja, para que bloqueasse qualquer saída institucional aos resultados eleitorais do 20 D. De ai véu que o PSOE pactuasse com C’s um governo inviável e que tivesse que recorrer á propaganda para premir a Podemos para que o aceitasse o prato pré- cozinhado ou, em caso contrário, convertê-lo no máximo culpável da repetição das eleições.
Também pediria responsabilidades a Zapatero por ter dado uma viragem de 180 graus na política espanhola para acomodá-la ás diretrizes das oligarquias européias e dos seus gerentes políticos, a tróica e, em especial, a Sra. Merkel, sumindo, deste modo, na miséria e no paro a milhões de pessoas. Também lhe pediria responsabilidades por tomar a iniciativa para reformar, a velocidade de vertigem, o artigo 135 da constituição, e todo isto sem consulta prévia á cidadania, para congraçar-se com os setores oligárquicos, e com grande regozijo do seu máximo representante em Espanha, o Sr. D. Mariano Rajoy.
Esta política hostil ás maiorias sociais foi a que propiciou o surgimento e ascenso de Podemos, obedecendo a uma necessidade de ferro e não a brincadeiras ou cabriolas da cidadania, que vai competir eleitoralmente para ocupar o espaço que abandonou o PSOE. Isto, unido á corrupção vigorante durante a última etapa dos governos de Felipe González, propiciou, também como uma necessidade de ferro o descenso eleitoral do PSOE, e inclusive muitos nos perguntamos como foi capaz de resistir tanto, á vista das políticas aplicadas e quando os inquéritos lhe eram muito mais desfavoráveis.
No caso da Galiza, o PSOE seguiu uma linha de fustigação com todos os seus potenciais coligados, e mui especialmente com o BNG. Eu lembro que já lhe telefonara a este respeito ao então deputado autonômico pela Corunha, Enrique Tello para dizer-lhe que os pactos com o PSOE estavam a ser um cancro para o BNG, que não tardaram em produzir a sua deriva eleitoral. Foi bem eloqüente também o que passou durante o governo do bipartito, no que o conselheiro Pachi Vázquez se dedicou a combater o concurso eólico promovido pelo BNG. Agora tampouco a colaboração com Em Maré deixa muito que desejar.
Outra constante na atuação do PSOE foi o reforço do seu espanholismo, que teve como principal inspirador a Felipe González. De ser um partido que defendera historicamente o direito de autodeterminação, desde a transição política de 1978 comparte as teses mais centralizadoras com o PP e converte um direito coletivo dos povos em linha vermelha para qualquer pacto, impedindo uma solução democrática ao problema territorial do Estado. Dizia ontem Emiliano Garcia Page que o PSOE deve traçar junto com o PP as linhas gerais da política espanhola, mas, se isto é assim, e isto foi o que véu fazendo na prática até agora, o único que poderiam acordar com os coligados da esquerda e com os nacionalistas seriam as miudezas, dando lugar a que os nacionalistas gritassem nas manifestações: “PSOE, PP, a mesma m... é”. O normal é que baixasse em todas as comunidades autônomas que a constituição chama nacionalidades, porque é também um partido alienígena que não dá assumido a realidade plurinacional do Estado.
Não sei se movido pela defesa dos seus interesses pessoais, o caso é que o Felipe González é o máximo defensor da abstenção com o PP, e, por tanto, da grande coligação, mas quiçá deveria pensar também os riscos que corre, porque isso justifica que se acuse ao seu partido, e, em concreto á socialdemocracia, de não ter política própria e assumir a política das oligarquias, e, como se sabe, nestes casos, é melhor seguir o original, quer dizer, a direita, e não uma cópia.
Tendo em conta todo o que levamos dito, creio que a responsabilidade dos resultados eleitorais é todo um partido á deriva desde faz muitos anos, que aplicou uma política oposta á que figurava nos seus programas e á que os seus eleitores esperavam dele. Considero que os resultados não são nem muito menos catastróficos, e que a surpresa e enfado dos socialistas se deve mais bem a uma falta de contacto com a realidade e a não querer aceitar que as decisões erráticas e erradas terminam por ter conseqüências, também para eles. Agora o votante da esquerda não tem outra alternativa que olhar cara a Podemos para ver se este é a solução, ao tempo que o PP já pode esperar a que os socialistas do PSOE, mentes se desolham privada e publicamente, lhe abram o caminho para governar outros quatro anos mais, e Rajoy já pode fumar tranquilamente outro puro mais mentes olha de esguelha a desfeita no campo inimigo.