O cristianismo contra a ciência

O livro O cristianismo contra a ciência obedece a que se considera que Deus é uma cousa séria e muito relevante para o ser humano e o seu destino e, por outra parte, a religião custa-lhe muito dinheiro aos cidadãos e cumpre examinar se este justificado este gasto. Este tema é tratado polas religiões e pela filosofia, com resultados muito dispares. Consta de cinco capítulos e a temática e as principais conclusões a que chega são as seguintes...

Por Ramón Varela | Ferrol | 11/10/2017

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No primeiro relata-se grande fracasso do cristianismo a respeito da forma da terra. Segundo a Bíblia a terra é um disco plano que flutua sobre as augas inferiores, opondo-se á sua esfericidade e à existência dos antípodas, esfericidade já defendida pelos pitagóricos, Platão, Aristóteles, e todos os filósofos e astrônomos posteriores. A razão para a oposição era um texto bíblico, todo indica que interpolado, no que Jesus ressuscitado lhe diz aos discípulos de que preguem o evangelho por todo o mundo (Mt. 28, 19). Não o pregaram aos habitantes das antípodas, logo estes não existem. Para que este razoamento procedesse com toda lógica teríamos que introduzir uma nova premissa, que consiste em afirmar que todo o que diz Jesus se cumpre inexoravelmente. O autor da condena foi o papa Zacarias, citando textos dos livros de Jó e da Sabedoria, o qual põe em questão tanto o dogma da inspiração dos livros sagrados como a infalibilidade papal. A vítima deste erro eclesial foi Cecco d’Ascoli (s. XIV), queimado vivo polos seus erros contra a fé, e em concreto, por ter feito um comentário ao livro A esfera, de Sacrobosco, monge inglês que propõe nele várias provas sobre a esfericidade da terra.
 
O segundo capítulo trata sobre a posição e movimento da terra e a pluralidade de mundos. O falsação do paradigma geocentrismo por parte de Copérnico, Giordano Bruno, Kepler e Galileu põe em questão a inspiração das Sagradas Escrituras e a infalibilidade da Igreja e do mesmo papa que dizem que Deus criou um mundo no que, tal como propõem as Escrituras, a terra é o centro do universo, e os demais planetas e o sol giram ao seu arredor.
 
Giordano Bruno pagou cara a sua ousadia de afirmar que o mundo é infinito e que existem múltiplos mundos. O Universo, segundo ele, contém um infinito número de mundos animados por animais e seres inteligentes, proposição não verificada, mas tampouco falsada, ainda que plausível. Se temos em conta que no Universo, segundo dos dados mais recentes, há uma quantidade de galáxias entre 1 e 2 bilhões, é muito provável que existam muitos mais planetas arredor dos 100 milhões de estrelas que há em cada galáxia. A afirmação de Bruno colide com o dogma cristão que diz que Cristo se encarnou para redimir os seres humanos deste mundo, mas não doutros mundos hipotéticos. O seu martírio no Campo de Fiore despido e atado a um pau com a língua aferrada numa imprensa de madeira para que não pudesse falar é o protótipo mais claro do teologismo repressor.
 
No terceiro capítulo trata-se da nova física, integrada pola mecânica clássica, a mecânica relativista e a mecânica quântica. Ante os descobrimentos da Mecânica clássica, por obra de Descartes, Galileu, Huygens e, sobre todo, Newton, a Igreja reagiu mantendo a vigência da física aristotélica, que prima o repouso sobre o movimento e estabelece como princípio cardinal que “todo o que se move, é movido por outro”, é movido por um motor. Esta proposição exige depender dum ser que impulse o movimento, e, por tanto, a necessidade de Deus, ignorando o câmbio que supõe o princípio de inércia, que diz que o que cumpre explicar não é o repouso nem o movimento, senão o câmbio. Aliás, o determinismo da Mecânica Clássica que concebe o mundo como uma máquina, faz mui difícil aceitar a chamada liberdade de indiferença, ou seja, a eleição sem motivos, sem causa, além de que supõe um inconveniente para aceitar que Deus atenda as súplicas dos fieis fazendo milagres, porque isto implicaria um câmbio no funcionamento da máquina cósmica. Esta posição da Igreja infirma a infalibilidade do magistério eclesiástico.
 
Muitos teólogos cristãos consideraram que a mecânica quântica lhes permitia explicar mais facilmente a liberdade humana, porque de acordo com ela, todo pode acontecer, por não estar o futuro rigidamente determinado, mas tem o inconveniente de que faz depender a decisão humana dos movimentos aleatórios das partículas cerebrais, e, por tanto, do azar e da casualidade, e isto implica que se um ato não é causado por nós, não seriamos responsáveis dele, e também tem o inconveniente de que, desta maneira, é mais difícil explicar o desígnio de Deus sobre o mundo, pois este indica que o plano divino tem que cumprir-se inexoravelmente. Se Deus obrasse por azar, qualquer universo lhe poderia sair,
 
O capítulo quarto versa sobre a vida e a sua evolução. O evolucionismo véu transtornar o imaginário mental que concebia que o home fora criado por Deus á parte dos demais animais, e, por tanto, a reação contra o evolucionismo foi furibunda, ainda que não alcançasse uma índole condenatória tão dramática como no caso do geocentrismo. O rosto barbudo de Darwin foi caricaturado com o corpo dum mono. A Igreja Anglicana declarou que a Teoria da Evolução constituía a visão mais degradante do ser humano jamais concebida, e alguns incluso chegaram a compará-lo com a serpente do jardim do Éden por intentar perverter as sociedade britânica com as suas idéias perversas. Em 1859 a Igreja qualificou a teoria da evolução como quimera dum ateu blasfemo, e continuou a sua hostilidade contra ela até o papa Pio XII.
 
O capítulo quinto desenvolve o tema do criacionismo e do evolucionismo cósmico a partir da teoria do big bang. Uma vez aceite a evolução do ser humano, ainda que parcialmente, o cristianismo concentrou-se em defender a criação do mundo por parte de Deus, mas, para justificar que Deus é criador primeiro haveria que definir quem é Deus e se este Deus existe. Deus é Espírito? É pensamento?, mas antes há que pôr-se de acordo em que é o Espírito e o pensamento. É algo material, como propõem os estoicos, Hobbes e Espinosa? Os principais argumentos utilizados para demostrar a sua existência são o cosmológico e o teleológico, mas nenhum deles demonstra que Deus existe. Por tanto, poderíamos estar-lhe encomendando a criação do mundo a uma fantasmagoria.
 
Aliás, os avanços científicos vão fazer a cada passo mais desnecessária a ação divina, pois, como diz Hawking, o Universo pode criar-se «do nada, por geração espontânea», e a idéia de Deus não é necessária para explicar a sua origem. A teoria do big bang faz supérflua a intervenção divina, e o que não é necessário cumpre rejeitá-lo. Esta posição de Hawking foi reforçada polo descobrimento do bóson de Higgs, que explica como as partículas se dotam de matéria. Em quanto ao destino do universo, até a década dos noventa considerava-se que era provável que se produzisse um big crunch, uma grande implosão, num processo anti-simétrico do big bang, porque se considerava que se estava ralentando a velocidade de expansão, mas, na década dos noventa comprovou-se que a velocidade de afastamento das galáxias se estava incrementando. As estrelas e galáxias finarão apagando-se e evaporando-se; os próprios nêutrons desintegraram-se, e, finalmente, também se evaporarão os buracos negros; a energia descenderá ao seu nível mais baixo dando lugar á morte térmica do universo, convertido num mar frio de radiação em expansão. Esta é a alternativa pela que se inclinam os astrofísicos na atualidade.

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Ramón Varela Ramón Varela trabalhou 7 anos na empresa privada e, a seguir, sacou as oposições de agregado e catedrático de Filosofia de Bacharelato, que lhe permitiu trabalhar no ensino durante perto de 36 anos.