Por Ramón Varela | Ferrol | 27/12/2017
Toda religião representa uma cosmovisão do mundo que estrutura a mente das pessoas e, neste sentido, é também um instrumento ao serviço do poder político que pretende tornar coesa uma comunidade política frente às demais. É legítimo que toda religião destaque os seus sinais de identidade, sempre que não colidam com os direitos humanos universalmente reconhecidos, mas ao mesmo tempo tem que ser tolerante com as demais. O problema que têm as grandes religiões monoteístas é que são exclusivistas e cada uma considera que é depositária da verdade transmitida polo mesmo Deus e concretizada nuns livros que costumam denominar sagrados. O lógico, nestes casos, é que, se um crê que Deus revelou algo para ser assumido por toda a humanidade, tenha propensão a colaborar nos desígnios divinos impondo coativamente a «verdade» aos demais, incluso por meio da violência, e isto foi o que passou historicamente. Portanto, as religiões monoteístas têm também tendência a ser belicosas, enquanto cooperadoras com um poder político no que o recurso à guerra ofensiva e defensiva era a medida usual. De tal modo que a história também se pode explicar a partir das guerras de religião, ainda que normalmente eram prioritariamente guerras desencadeadas por móveis socioeconômicos e políticos. Aliás, os crentes, ao manter a mística de que lutam pola causa divina, liberam na guerra a sua agressividade e lavam a sua falsa consciência; o qual explica que muitas vezes são as pessoas mais insensíveis e agressivas.
Os denominados Padres da Igreja e Escritores Eclesiásticos, no seu afã de preservar os dogmas transmitidos por Deus, tiveram sempre uma atitude de defesa frente ao exterior, praticamente todos eles foram apologistas, e uma obsessão pola condena do discrepante, quer exterior, como a religião pagã, quer interior, como as diversas fações que foram surgindo no seio da Igreja. É excepcional encontrar algum autor que não tenha algum livro titulado «Contra ...» Confrontando-a com uma religião como o hinduísmo, que não tem dogmas nem emite condenas por questões doutrinais e onde cada um pensa o que crê conveniente, o cristianismo é a religião dos dogmas, das condenas, da exclusão do discrepante, inclusive dos que se confessavam cristãos. Seria prolixo enumerar os grupos e pessoas condenados pola Igreja, e só vou citar as lutas cainitas entre as duas principais facões da Igreja dos primeiros séculos: os que logo receberiam o título de católicos e arianos, com um Santo Atanásio atiçando o ódio inter-cristão. Um pode consultar uma parte relevante destas condenas eclesiásticas em DENZINGER, HENRIQUE, Magistério da Igreja, e, a respeito da condena de livros, o Índice de livros proibidos, tanto geral como da Inquisição espanhola. No ano 1054 produziu-se o chamado Cisma de Oriente, pola obsessão do Papa de Roma a impor a sua disciplina e ritual litúrgico a toda a comunidade cristã, incluído o Patriarcado de Constantinopla, quando somente tinha reconhecida, até o século V, uma primazia honorífica, dum primus inter pares, e não uma primazia doutrinal, disciplinaria e real.
Os judeus destacam, entre as suas caraterística próprias, o facto de aderir à única religião que se iniciou com uma revelação do Deus dos hebreus a uma nação inteira, contida no livro que lhe entregou a Moisés, a Tora, que corresponde ao Pentateuco. Este Deus encomendou-lhe uma missão divina: “Agora, pois, se atentamente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu pacto, então sereis a minha possessão peculiar dentre todos os povos, porque minha é toda a terra; e vós sereis para mim reino sacerdotal e nação santa”1. Noutras palavras, o povo hebreu converte-se numa possessão divina e no povo elegido entre todos os demais e deus rebaixa-se a um deus tribal que faz aceção de pessoas e perde o seu caráter de divindade universalista que se guia por uma justiça baseada na igualdade entre todas as pessoas e todos os povos. Este pronunciamento opõe-se ao que diz muitas vezes a Bíblia referente a que não se deve fazer aceção de pessoas, como tampouco Deus as faz. “Não fareis aceção de pessoas em juízo; de um mesmo modo ouvireis o pequeno e o grande; não temereis a face de ninguém, porque o juízo é de Deus”2. E um pouco mais adiante diz o livro do Deuteronômio: “Pois Javé vosso Deus, é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz aceção de pessoas”3. Javé é o deus superior, mas também se reconhece que existem outros deuses de natureza inferior. Logo, se a justiça se baseia na não aceção de pessoas e Deus não faz aceção de pessoas, não pode discriminar positivamente a um povo a respeito dos demais, porque então indiretamente estaria fazendo aceção de pessoas. Se Castelao:dizia que “Não há indivíduos livres em povos escravos”, igualmente aqui podemos dizer que não há indivíduos sem aceção de pessoas em povos discriminados negativamente. Segundo os judeus, esta revelação divina, única e exclusiva do povo judeu, foi ouvida por todo o povo hebreu no deserto do monte Sinai, se bem na realidade esta afirmação não é mais que um invento de mentes angustiadas, vítimas de situações de penúria e medo ante a situação socioeconômica adversa do deserto, que as faz sonhar com terras que manam leite e mel e num estado de segurança como fruto da proteção especial divina.
O povo hebreu foi nos seus inícios um povo politeísta, como os demais povos do seu entorno, mas, uma vez desaparecido o reino do Norte, ou reino de Israel, que sempre defendeu e praticou a liberdade de cultos, no reino de Judá, durante a época exílio babilônico (586-537), os sacerdotes de Jerusalém lograram impor o culto de Javé e a sua unicidade, passando de ser o deus tribal de Jerusalém a Deus nacional. Deste período datam os seguintes textos: “A ti te foi mostrado para que soubesses que Javé é Deus; nenhum outro há senão ele... Polo que hoje deves saber e considerar no teu coração que só Javé é Deus, em cima no céu e embaixo na terra; não há nenhum outro” (Dt. 4, 35-39): “Portanto és grandioso, ó Senhor Javé, porque ninguém há semelhante a ti, e não há Deus senão tu só, segundo tudo o que temos ouvido com os nossos ouvidos”. Isto não significa que antes desta data não houver pronunciamentos em prol da unicidade de Deus, mas somente lograram impor-se mais tarde a toda a comunidade. “Javé dos exércitos, Deus de Israel, tu que estás sentado sobre os querubins; ti, só ti, és o Deus de todos os reinos da terra; ti fizeste o céu e a terra... Agora, pois, Javé nosso Deus, livra-nos da sua mão, para que todos os reinos da terra saibam que só ti és Javé”4. Como vemos, Javé é o deus da guerra, que responde às necessidades dos povos que mantém uma relação persistente de conflito com os seus vizinhos. Em Israel já defendiam a noção de guerra santa, segundo a versão da Bíblia de Jerusalém. Je. 6, 4: «Declarai-lhe a guerra santa! Em pé e subamos contra ela a meio-dia!... ¡Ai de nós, que o dia vai caindo, e se alongam as sombras da tarde!”. Igualmente Miq. 3, 5: “Assim diz Javé contra os profetas que extraviam o meu povo, os que, enquanto mascam com os seus dentes, gritam: «paz»!, mas a quem não põe nada na sua boca declaram-lhe a guerra santa”.
A religião serviu para fomentar o fervor bélico e a coragem nas tropas para enfrentar os inimigos, e, portanto, atende uma necessidade social, que consiste em salvar o povo da ameaça dos seus inimigos. “Quando saíres à peleja, contra teus inimigos, e vires cavalos, e carros, e povo mais numeroso do que ti, deles não terás temor, pois contigo está Javé, o teu Deus que te fez subir da terra do Egito. Quando estiveres para entrar na peleja, o sacerdote se chegará e falará ao povo, e lhe dirá: Ouvi, é Israel; vós estais hoje para entrar na peleja contra os vossos inimigos; não se amoleça o vosso coração; não temais nem tremais, nem vos aterrorizeis diante deles; pois Javé, o vosso Deus, é o que vai convosco, a pelejar por vós contra os vossos inimigos, para vos salvar” (Dt. 20. 1-4). O autor sagrado não duvida em pôr em boca de Javé os maiores crimes de guerra, que lhe permitirá aos combatentes purificar a sua falsa consciência, porque atuando assim, atendem um preceito divino. “Logo que Javé, o teu Deus, a entregar nas tuas mãos, passarás ao fio da espada todos os homens que nela houver; porém as mulheres, os pequeninos, os animais e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás por presa; e comerás o despojo dos teus inimigos, que Javé, teu Deus, te deu. Assim farás a todas as cidades que estiverem mais longe de ti, que não são das cidades destas nações. Mas, das cidades destes povos, que Javé, teu Deus, che dá em herança, nada que tem fôlego deixarás com vida; antes destruí-los-ás totalmente: aos heteus, aos amorreus, aos cananeus, aos perizeus, aos heveus, e aos jebuseus; como Senhor teu Deus che ordenou” (Dt. 20, 13-17).
A situação de dependência política suscita os sonhos dum Messias libertador do povo de Israel que deve reinar uma teocracia para procurar a paz e a segurança dos seus súbditos, que pouco tem que ver com a figura do Cristo histórico. O vocábulo Messias vem do hebreu Meshiach, que significa "ungido"; é equivalente ao termo grego Christós. Deveria ser descendente de David que seria ungido por Deus para libertar o povo de Israel. Era um caudilho político-militar que libertaria o povo hebreu do jugo da dominação estrangeira. O Messias devia ser filho de David porque este era o rei amado, o rei elegido em pessoa por Deus para governar Israel, e não filho de Deus, ele mesmo Deus, e segunda pessoa da trindade divina, pois esta figura de Messias opõe-se ao monoteísmo estrito do judaísmo da época contemporânea e posterior ao exílio. “Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor”5. Adorar ao Messias como Deus seria, para um judeu, um ato de idolatria, que constituiria uma separação definitiva de Deus.
O Messias ostentará o poder político-militar neste mundo e relevará o domínio que ostentava a tribo de Judá: “O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de autoridade dentre seus pés, até que venha aquele (O Messias) a quem pertence; e a ele obedecerão os povos”6. Segundo a Misdrash o Messias será da tribo de Judá. “Por que te louvam os teus irmãos, Judá (Gen. 49, 8). Porque todo Israel seria chamado ‘judeus’ por ti; e não só por esta razão, senão porque o Messias será o teu descendente, o que salvará a Israel; como está escrito: ‘Um rebento brotará do tronco de Isai”7. Trata-se dum Messias rei que governará sobre todas as nações. Os judeus não aceitam a Jesus como o Messias, pois, ainda que procurou constituir-se em líder político que libertasse o seu povo frente a Roma, fracassou no seu intento, igual que não cumpriu profecias messiânicas como:
1ª.- Reunificar os dous reinos em que estava dividido o povo hebreu num único reino regido por David, e construir o Terceiro Templo (Ezequiel 37, 21-28).
2ª.- Reunir a todos os judeus de regresso à Terra de Israel (Isaías 43, 5-8).
3ª.- Constituir uma teocracia única sob o reinado de Javé, ante quem se prostrarão todos os seus atuais inimigos, sobre os quais não virá a chuva em caso de resistência. (Zacarías 14, 9-18). Ou seja, que um povo pequeno, sempre dominado por potências estrangeiras mais poderosas, fundamentalmente Egito, Babilônia e Roma, recreia mentalmente o sonho de erigir-se em reitora de todo o mundo e impor-lhe o seu Deus apesar de que nunca logrou o assentimento dos dous reinos em que esteve dividido o povo hebreu historicamente.
Muitos dos sinais de identidade do judaísmo são também compartidos polo cristianismo, que a maiores incrementa a adesão incondicional e exclusiva que reclamou para si Jesus de Nazaré: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim”8. Adesão e exclusivismo que justificaram historicamente a marginação e a repressão dos dissidentes. “Quem não permanece em mim é lançado fora, como a vara, e seca; tais varas são recolhidas, lançadas no fogo e queimadas”9. “Se alguém vem a vós, e não traz este ensino, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis”10.
Auto-identidade muçulmana
A revelaç4ao de Alá a Maomé não pretende rachar com a tradição judeu-cristã, senão que forma parte da revelação já transmitida a Abraão, Moisés e Jesus. Alá “prescreveu-vos a mesma religião que havia instituído para Noé, a qual te revelamos, a qual havíamos recomendado a Abraão, a Moisés e a Jesus, (dizendo-lhes): Observai a religião e não discrepeis acerca disso; em verdade, os idólatras se ressentiram daquilo a que os convocaste, Deus elege quem lhe apraz e encaminha para Si o contrito” (Surata. 42, 13). 2, 62 No dia do juízo final tanto os fiéis, como os judeus, cristãos e sabeus, habitantes de Saba, serão recompensados por Deus, se obraram retamente. “Os fieis, os judeus, os cristãos e os sabeus, enfim todos os que crêem em Alá, no Dia do Juízo Final e praticam o bem, receberão a sua recompensa do seu Senhor e não serão presas do temor nem se atribularão” (Su. 2, 62). Mas, isto não significa que para os muçulmanos todos sejam iguais, senão que os islamistas têm a revelação autêntica, e, neste sentido, são superiores. “Nem os judeus, nem os cristãos, jamais estão satisfeitos contigo, a menos que abraces os seus credos. Dize-lhes: «Por certo que a orientação de Deus é a Orientação!» Se te renderes aos seus desejos, depois de te ter chegado o conhecimento, fica sabendo que não terás, em Deus, Protetor, nem Defensor” (Su, 2, 120)..
O Alcorão sublinha o estrito monoteísmo divino que não respeitam nem os judeus nem os cristãos. “Deus! Não há mais divindade além de Ele, o Vivente, o que Subsiste por si mesmo” (Su, 3,2). Esta unicidade é acentuada em Su, 7, 158. “Dize: Ó humanos, sou o Mensageiro de Alá, para todos vós; Seu é o reino dos céus e da terra. Não há mais divindades além de Ele. Ele é Quem dá a vida e a morte! Crede, pois, em Alá e em Seu Mensageiro, o Profeta iletrado, que crê em Alá e nas Suas palavras; segui-o, para que vos encaminheis”. Alá intima a Maomé a que pregue a revelação aos maometanos, e lhes manifeste que é o único Deus e a Ele retornará. “Assim te enviamos a um povo, ao qual precederam outros, para que lhes recites o que temos revelado, apesar de negarem o Clemente. Dize-lhes: Ele é o meu Senhor! Não há mais divindade além de Ele! A Ele me encomendo e a Ele será o meu retorno!” (Su. 13, 30). Antes enviou mensageiros a outros povos, como os judeus e cristãos, mas foram desviados por Satanás. “Por Deus! Antes de ti enviamos mensageiros e outros povos; porém, Satanás abrilhantou as próprias obras (a esse povo) e hoje é o seu amo; mas sofrerão um doloroso castigo!”(Su. 16, 63).
Os muçulmanos criticam os judeus e os cristãos; aos primeiros porque adoraram os ídolos e aos segundos por inventar o dogma da Trindade, enquanto que eles pretendem conservar a doutrina pura de Abraão. Alá não pode ser parte de nenhuma trindade porque isso atentaria contra a sua unicidade e, consequentemente contra a sua supremacia sobre todos os demais seres. “São blasfemos aqueles que dizem: «Alá é o terceiro de três», portanto não existe divindade alguma além do Deus Único. Se não desistirem de tudo quanto afirmam, um doloroso castigo açoitará os incrédulos entre eles” (Sur. 5, 73). Além da trindade, os muçulmanos não aceitam que Jesus seja o filho unigénito de Deus. “As doutrinas da Trindade (iguais com Deus) e da unigenicidade (filho único de Deus) são repudiadas como blasfêmias” (Su. 114, 320). Segundo o Alcorão, os cristãos não respeitam o estrito monoteísmo, porque dizem que Deus é somente um deus duma trindade, ainda que concordam com eles em afirmar que Maria é virgem e concebeu por obra do Espírito Santo. “Ó adeptos do Livro, não exagereis em vossa religião e não digais de Deus senão a verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria, foi tão-somente um mensageiro de Deus e Seu Verbo, com o qual Ele agraciou Maria por intermédio do Seu Espírito. Crede, pois, em Deus e em Seus mensageiros e não digais: Trindade! Abstende-vos disso, que será melhor para vós; sabei que Deus é Uno. Glorificado seja! Longe está a hipótese de ter tido um filho” (Su. 4, 171).
A umma é a comunidade de crentes do Islame, que, segundo o Alcorão, se converte no novo povo elegido por Deus, com preferência aos demais crentes do livro. Os muçulmanos são os preferidos de Alá, por ser o povo melhor por razões morais e religiosas. Dos crentes do livro, ou seja, os judeus e cristãos, somente alguns crêem, mas a maioria é perversa. “Sois a melhor comunidade que surgiu na humanidade, porque recomendais o bem, proibis o ilícito e credes em Deus. Se os adeptos do Livro cressem, melhor seria para eles. Entre eles há fiéis; porém, a sua maioria é depravada” (Su. 3, 110). Alá revelou-lhe a Maomé o Alcorão, que confirma tanto a Bíblia hebreia como os Evangelhos. Em verdade, revelamos-te (a Maomé) o Livro corroborante e preservador dos anteriores, que servirá de guia para julgar os demais, sempre sem desviar do caminho reto, ao tempo que os insta a superar-se na benevolência porque todos eles retornarão a Deus. “Julga-os, pois, conforme o que Deus revelou e não sigas os seus caprichos, desviando-te da verdade que te chegou. A cada um de vós temos ditado uma lei e uma norma; e se Deus quisesse, teria feito de vós uma só nação; porém, fez-vos como sois, para testar-vos quanto àquilo que vos concedeu. Emulai-vos, pois, na benevolência, porque todos vós retornareis a Deus, o Qual vos inteirará das vossas divergências” (Su. 5, 48). Os judeus também se regem pola verdade com a que julgam. “Entre o povo de Moisés existe uma comunidade que se rege pola verdade, com a qual julga” (Su. 5, 159 e 181).
Alá elegeu um novo povo, os muçulmanos e, em consequência, de acordo com esta eleição divina devem lutar por Alá. “E combatei com denodo pola causa de Alá; Ele vos elegeu. E não vos impôs dificuldade alguma na religião, porque é o credo de vosso pai, Abraão. Ele vos denominou muçulmanos, antes deste e neste (Alcorão), para que o Mensageiro seja testemunha vossa, e para que sejais testemunhas dos humanos. Observai, pois, a oração, pagai o zakat (esmola) e apegai-vos a Deus, Que é vosso Protetor. E que excelente Protetor! E que excelente Socorredor!” (Su. 22, 78). Além dos três citados (a oração, zakat e apego a Alá), os outros dous pilares do Islame são o jejum e a peregrinação à Meca. Como proibições rituais “Ele (o Alcorão) só vos vedou a carne dum animal morto, o sangue, a carne de porco e tudo o que for sacrificado sob invocação de outro nome que não seja Alá. Porém, quem, sem intenção nem abuso, for impelido a isso, não será recriminado, porque Deus é Indulgente e misericordioso” (Su. 2, 173).
A respeito da guerra, o Alcorão alenta alenta-a em casos determinados, como são a legítima defesa e o proselitismo. “Combatei pola causa de Deus, aqueles que vos combatem; porém, não pratiques a agressão, porque Deus não estima os agressores” (Su. 2, 190). Alguns entendem que neste texto o Alcorão somente aceita a guerra defensiva, mas ainda que fica, neste texto, muito indeterminado, noutros prescreve a guerra contra o infiel. A guerra deve continuar até que termine a perseguição e prevaleça a religião de Deus “E combatei-os até terminar a perseguição e prevalecer a religião de Deus. Porém, se desistirem, não haverá mais hostilidades, senão contra os iníquos” (Su. 2, 193). Obriga-se, portanto, ao submetimento, e, neste caso, proíbe-se a aniquilação. Durante certos dias está proscrito fazer a guerra, o mesmo conceito que no cristianismo se chamou a trégua de Deus. “Mas quando os meses sagrados houverem transcorrido, matai os idólatras (os cristãos), onde quer que os acheis; capturai-os, acossai-os e espreitai-os; porém, caso se arrependam, observem a oração e paguem o zakat, abri-lhes o caminho. Sabei que Deus é Indulgente e misericordioso” (Su. 9, 5). Os idólatras são impuros e, portanto, devem ser combatidos. “Combatei aqueles que não crêem em Deus e no Dia do Juízo Final, nem abstêm do que Deus e Seu Mensageiro proibiram, nem professam a verdadeira religião daqueles que receberam o Livro, até que, submissos, paguem o Jizya” (Su. 9, 29). A Jizya era a compensação exigida por não aceitar o Islame.
A partir destas conceções, creio que já é possível entender as perseguições empreendidas por estas religiões contra os não aderentes, e no fundo do que se trata é duma luta para acrescentar o controlo das consciências e assim poder incrementar a sua massa de crentes, que se traduz também num aumento dos seus ingressos.