Perante a nova transiçom e umha república espanhola: rutura democrática e República Galega

A imputaçom da infanta Cristina no caso Nóos e a filtraçom de umhas velhas fotografias do presidente da Junta da Galiza desfrutando dumha velada no iate de um destacado capo do narcotráfico arousao, som dous novos capítulos que podem contribuir a acelerar a crise do regime pós-franquista.

Por Carlos Morais | Compostela | 08/04/2013

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O modelo político imposto no período que oscila entre 1975-81 pola oligarquia espanhola, mediante um pacto assimétrico entre setores aberturistas do franquismo, a esquerda reformista (PCE e PSOE) e a burguesia catalana e basca, sob a tutelagem do imperialismo ianque e franco-alemám, atravessa um enorme descrédito entre amplos setores populares.
 
A monarquia, como instituiçom exemplar garante das “conquistas democráticas” e da unidade espanhola, foi durante décadas um fetiche inquestionável em base a permanentes campanhas mediáticas de lifting que transmitiam umha imagem maquilhada de Juan Carlos e da sua família. Todo o que provinha da Zarzuela estivo submetido a umha férrea censura questionada por mui escassas vozes e poucas forças políticas e sociais.
 
Semelhava que todo o que procedia da família real estava carregado de umha áurea divina inquestionável polos súbditos da monarquia bourbónica. Este princípio, um dos eixos medulares dos opacos pactos da Transiçom, está a dia de hoje praticamente quebrado.
 
Os principais agentes da casta política corrupta que naquela altura furtárom a palavra ao povo, pactuando um modelo continuador da ditadura que em 1936 impujo a sangue e fogo um regime fascista na Galiza, ou bem falecêrom, ou bem já nom ocupam por razons basicamente de índole biológica, responsabilidades no aparelho do regime burguês espanhol.
 
Aqui poderia radicar umha das principais explicaçons para entendermos por que os mesmos meios de comunicaçom e aparelho judicial –que acompanhárom e contribuírom, em base a manipulaçom e ocultaçom permanente da realidade e criminalizaçom da dissidência política, à imposiçom deste regime durante três longas décadas– agora semelham competir por filtrar, divulgar e denunciar a intrínseca corrupçom da casta cleptocrática que nos governa e da monarquia que Franco impujo para deixar todo “atado e bem atado”.
 
Nom é casualidade que perante a grave multicrise que padece o Estado espanhol, com as suas particulares expressons no ámbito económico, social, político e institucional, a oligarquia pretenda repetir umha operaçom similar a de 1975-81.
 
As forças do regime som conscientes da enorme vulnerabilidade do sistema, da desafetaçom cada vez maior de segmentos destacados das massas com o modelo vigorante, mas também som conscientes das enormes debilidades do movimento popular pola ainda abrumadora hegemonia no seu seio das velhas e tradicionais forças reformistas e pactistas, e da fragmentaçom e debilidade do campo revolucionário.
 
Para perpetuar-se e saírem reforçados desta turbulenta e instável situaçom estám ensaiando diversas estratégias simultáneas traçadas polos think tanks, mas nom sempre fáceis de implementar polos contratempos permanentes. Estám preparando umha segunda transiçom, embora ainda nom tenhem completamente perfilado a sua forma e agenda.
 
Alternativas do regime
 
O regime é plenamente consciente do enorme desprestígio do modelo bipartidista e da decadência das suas duas principais expressons: PP e PSOE. 
 
Conhecedor do elevado grau de mal-estar social, implementou inicialmente umha arriscada operaçom plasmada na promoçom de um movimento popular (15M) que contribuísse a amortecer as contradiçons e reduzir a pressom da ola. A iniciativa promovida na primavera de 2011 foi útil por quanto gerou enormes expetativas nas possibilidades de saídas políticas sem quebrar o sistema. 
 
Porém também foi contraproducente pois contribuiu à incorporaçom de juventude à luita social e política, à recuperaçom de ativistas de geraçons decepcionadas, a situar a rua como espaço primordial da luita, e perante o desenlace frustrante de um movimento que reclamou mudanças parciais com um programa regeneracionista avançado, facilitou a radicalizaçom de umha parte dos ativistas.
 
Mas simultaneamente o regime também está promovendo a recomposiçom de um dos dous campos que a democracia burguesa necessita para garantir a estabilidade social que facilite a exploraçom da classe trabalhadora, a dominaçom patriarcal e a opressom das naçons oprimidas como a galega. 
 
A “social-democracia” hegemonizada polo PSOE de 1982 é a grande vítima da multricise espanhola. De aí a necessidade de reconfigurar este campo com um discurso aparentemente mais radical. O que a nível estatal hoje representa IU, na Galiza é a coaligaçom AGE.
 
A burguesia espanhola é consciente da importáncia de contar com umha destacada força que aglutine eleitoralmente os setores mais progressistas e de esquerda do povo, para assim garantir a estabilidade do regime. Com um PSOE em queda livre e sem possibilidades imediatas de remontar, há que evitar que esses setores populares transitem para a esquerda revolucionária ou para posiçons asistémicas. As quais na Galiza só o podem ser se tenhem um programa indiscutivelmente patriótico favorável à soberania e independência nacional.
 
No quadro desta estratégia nom podemos infravalorizar as campanhas invisíveis tendentes a desprestigiar a política, e portanto a todas as forças políticas sem destinçom.
Umha saída populista autoritária nunca é descartada pola burguesia, e para preparar o terreno a esta nada improvável alternativa, que melhor que minar a legitimidade de todas as forças políticas e sociais, inclusive as de esquerda consequente em base a “todos os políticos som iguais” e opinions similares.
 
Mas entre ambos os cenários: recompor o modelo da alternáncia eleitoral promovendo um(uns) substituto(s) ao PSOE, e um governo de concentraçom nacional dirigido por um tecnocrata imposto pola troika ou umha figura populista, nom descartam implementar umha arriscadíssima operaçom de ou bem facilitar a abdicaçom do caçador de elefantes polo seu filho, ou bem facilitar a implantaçom da III República espanhola.
 
Saída política ruturista
 
Nengumha destas duas alternativas, como tampouco as duas primeiras, som boas, e muito menos desejáveis, para os interesses objetivos da Galiza, das mulheres e da classe trabalhadora.
 
Mudar um membro da família real por outro é como mudar a Rajói por Soraya Saénz de Santamaría. Mais do mesmo. 
Substituir o Reino de Espanha por umha República nom trazerá mudanças de fundo, nem alterará o endurecimento das três agressons simultáneas que estamos padecendo: imposiçom do neoliberalismo selvagem, reinstauraçom do patriarcado em estado puro, e recentralizaçom espanholista para lograr a plena assimilaçom do projeto nacional galego.
 
Porém esta última opçom sim pode ser-lhes mui útil para anestesiar durante um longo período as luitas populares. Provocará umha enorme shock social, um cataclismo no ámbito do imaginário coletivo, umha comoçom que embora sim reavivará os fantasmas do passado, será mui útil para descentrar e confundir as tarefas do movimento obreiro, feminista e de libertaçom nacional.
 
Mas também acelerará a integraçom definitiva da esquerda espanhola, neutralizando a principal bandeira que o pós-carrillismo leva agitando desde a mudança de século para recuperar o espaço e prestígio perdido polas suas traiçons e práticas conciliadoras.
 
O republicanismo espanhol, que compartilha idêntico paradigma com a direita mais cavernícola na defesa da unidade espanhola, lograria assim um triunfo efémero e meramente virtual, que provocará o seu ascenso eleitoral e portanto acelerará a sua posterior queda.
 
Promover umha mimética fórmula populista em estado puro como o italiano Movimento 5 estrelas de Beppe Grillo, o espanholismo neofascistizante de UPyD, o republicanismo espanhol de esquerda representado por IU e a constelaçom de grupos satélites, ou as alianças de heterogéneas forças que anteponhem o eixo esquerda/direita omitindo a sua interligaçom com a luita de libertaçom nacional, som algumhas das múltiplas possibilidades que hoje a oligarquia espanhola baralha como alternativas incómodas, mas possíveis, para manter a Espanha unida que o Capital necessita.
 
Porém, perante este cenário, tampouco servem fórmulas intermédias de endurecimento discursivo no ámbito social e nacional, se só pretendam ganhar tempo para recuperar o descrédito ganhado a pulso.
 
Estamos perante umha situaçom excecional para incidir no curso dos acontecimentos, sempre que a esquerda nacionalista e a esquerda independentista e socialista galega logrem construir um espaço integrador de mobilizaçom, conscientizaçom e luita de massas em base a umha ampla aliança de programa avançado.
 
A multicrise do regime só se vai dirimir em sentido positivo para as grandes maiorias, as mulheres e a pátria galega, se conseguirmos convencer o nosso povo mediante pedagogia de massas que a soluçom à prática totalidade dos problemas e dramas quotidianos que sofremos, nom tenhem cabimento no quadro de Espanha e do capitalismo. Que é necessário soprarmos coletivamente para promover um furacám revolucionário baseado na rutura democrática e um processo constituinte galego que culmine na instauraçom da I República Galega, de claro caráter socialista. 
 
Temos responsabilidades em construir este cenário. Do contrário, voltaremos a sofrer umha derrota ainda maior que a de 1975-81.
 
 
Galiza, 3 de abril de 2013, no 167 aniversário da Revoluçom Progressista Galega

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Carlos Morais Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, a 12 de maio de 1966. Licenciado e com estudos de doutoramento em Arte, Geografia e História pola Universidade de Compostela, tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, entre os quais destacamos A luita dos pisos, Ediciós do Castro, 1996; Crónica de Fonseca, Laiovento, 1996, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra, Voz Própria, Política Operária, Insurreiçom, Tintimám, e em publicaçons digitais como Diário Liberdade, Galicia Confidencial, Sermos Galiza, Praza Pública, Odiário.info, Resistir.info, La Haine, Rebelion, Kaosenlared, Boltxe ou a Rosa Blindada, da que fai parte do Conselho assesor. Também tem publicado ensaios políticos em diversos livros coletivos: Para umha Galiza independente, Abrente Editora 2000; De Cabul a Bagdad. A guerra infinita, Dinossauro, 2003; 10 anos de imprensa comunista galega, Abrente Editora 2005; A Galiza do século XXI. Ensaios para a Revoluçom Galega, Abrente Editora 2007; Galiza em tinta vermelha, Abrente Editora 2008; Disparos vermelhos, Abrente Editora 2012. Foi secretário-geral de Primeira Linha entre dezembro de 1998 e novembro de 2014. É membro do Comité Executivo da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Fundador de NÓS-Unidade Popular em junho de 2001, formou parte da sua direçom até a dissoluçom em maio de 2015. Na atualidade, fai parte da Direçom Nacional de Agora Galiza e do Comité Central de Primeira Linha.