Nem monarquia nem república espanhola: República Galega

A abdicaçom de Juan Carlos como rei de Espanha é umha manobra perfeitamente calculada polo regime para tentar frear, e progressivamente recuperar, a legitimidade popular perdida.

Por Carlos Morais | Compostela | 05/06/2014

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A profunda crise política e social que atravessa o monopartidarismo bicéfalo pola aplicaçom das receitas ultraliberais da troika foi exprimida claramente nas eleiçons europeias. Pola primeira vez em quase quarenta anos de democracia burguesa espanhola, os votos do PP/PSOE a nível de Estado nom atingem os 50% dos sufrágios. Comportamento eleitoral enquadrado num processo em que mais de metade da populaçom optamos por nom participar.
 
A desafetaçom de cada vez maiores setores populares com o regime da segunda restauraçom bourbónica é umha realidade inocultável. Amplos segmentos juvenis e da classe obreira, mas também dos setores intermédios, experimentam umhas contraditórias tendências de radicalizaçom política. Devemos, pois, mediante pedagogia política e firmeza nos princípios, favorecer que transitem para posiçons rupturistas.
 
Se a multicrise sistémica do capitalismo global é estrutural, a do capitalismo espanhol ainda é mais profunda. 
 
O temor a que as forças políticas em que o regime se sustenta podam num futuro próximo vir a ficar em minoria nas Cortes explica, em parte, a decisom adotada polo caçador de elefantes. Há que blindar a continuidade do modelo político imposto polo franquismo perante os desafios imediatos: consulta catalá e aumento da desafetaçom popular polo agravamento da situaçom económica e as imprevisíveis conseqüências no estado de consciência e no ánimo das massas. 
 
Perante este cenário tam aberto, o regime procura implementar a marchas forçadas umha nova tansiçom, aplicando idêntica receita que em 1975-81: impor a continuidade do sistema por cima da vontade popular, mediante um pacto. Os partidos do Ibex 35 e os seus aliados querem blindar o cerne do pós-franquismo. Para isso é para eles essencial furtar a voz do povo.
 
A abdicaçom de Juan Carlos é umha decisom arriscada, mas imprescindível para controlar os tempos políticos. O momento escolhido é subjetivamente apropriado. O Mundial de futebol é um cenário adequado para amortecer e anestesiar o descontentemento social. 
 
Mas também sabem que a corrupçom, o desemprego e a ausência de alternativas laborais; o empobrecimento e a proletarizaçom das camadas intermédias, a carência de futuro da juventude, as reivindicaçons nacionais dos povos oprimidos por Espanha, som um combinado explosivo. 
 
As forças revolucionárias, como a que representa a esquerda independentista galega, temos o dever de agitar este cóctel com firmeza, para que detone e podamos assim contribuir para tombar o sistema. 
 
Contodo, e perante esta situaçom, o regime guarda um ás na sua manga: esse ás chama-se “III República”. Nom obviemos que boa parte do bloco de classes oligárquico espanhol tem sido monárquico por puro acidentalismo histórico. Porque este modelo de Estado garantia a perpetuaçom dos seus interesses e privilégios. 
 
Daí que, se a coroaçom de Felipe VI (aguardemos que “O Breve) nom o assegurar, podam vir a promover a sua queda controlada, impondo, novamente por cima, a fórmula republicana unitária, capitalista e patriarcal da tradiçom histórica do liberalismo espanhol.
 
Eis porque a alternativa republicana jacobinista que promovem o conjunto das forças hoje fragmentadas, mas que que em 1977 ainda estavam bem articuladas à volta do PCE, é um gesto vácuo, umha nova fraude do neocarrilhismo.
 
Os valores republicanos nom asseguram per se melhorias nas condiçons de vida das maiorias trabalhadoras, e muito menos a emancipaçom das mulheres, nem tampouco a das naçons oprimidas como a Galiza. Som os valores do socialismo os únicos que, partindo do próprio povo interessado nessa emancipaçom e nom de maneira “concedida”, podem garantir estas conquistas. Daí a importáncia de um povo trabalhador bem organizado e em alerta permanente para a aplicaçom do programa revolucionário.
 
O dilema monarquia/república, que promovem as organizaçons oportunistas da esquerda espanhola, é umha fraudulenta ilusom para vertebrar à sua volta o enorme descontentamento popular, capitalizá-lo eleitoralmente e assim poder ocupar o espaço de um PSOE em declínio. Representa umha estratégia de curto e limitado percurso, que aspira a situar os seus dirigentes num governo caraterizado por simples remendos e declaraçons de princípios, que neutralizare a transiçom da indignaçom para a revolta, e cujo resultado será umha nova frustraçom popular.
 
O movimento popular, as forças políticas e sociais rupturistas, temos que descartar isso. Devemos fazer pedagogia política de massas. Desmascarar a falsa alternativa que, umha vez mais, o PCE, IU e os seus competidores mediáticos querem protagonizar. 
 
É a hora a ruptura democrática. É o momento de forçar um processo constituinte. Esta só será possível exercendo o direito de autodeterminaçom. Tanto IU, como as forças eleitorais “alternativas” que fomentou com êxito o sistema nos últimos meses, estám incapacitadas para promové-lo. As suas elites nem querem nem desejam este cenário. Geneticamente, som jacobinistas e, seguindo a tradiçom republicana espanhola, querem impor-nos um modelo de Estado onde se negue o direito a decidir da Galiza e se perpetue o papel atribuído à nossa pátria na divisom internacional do trabalho por Espanha e pola UE: regiom produtora de matérias-primas, de onde extrair mao de obra barata e onde instalar indústrias de enclave poluentes. Querem que continuemos a ser umha naçom submetida e explorada.
 
Eis porque na segunda-feira 2 de junho as ruas e praças da Galiza assistírom a um apaixonado debate e confronto de ideias entre os milhares de pessoas que denunciamos a manobra do regime. Por um lado, os da tricolor espanhola, solicitando um referendo para legitimar a nova transiçom em curso, negando o direito de autodeterminaçom do povo galego, alimentando fetichismos e a amnésia histórica do que supujo a II República espanhola. Polo outro, as forças da esquerda patriótica, simbolicamente armados da nossa tricolor branca, azul e vermelha, reclamando umha República Galega e, portanto, a ruptura democrática galega. 
 
É hora de agirmos com audácia e coragem. Nom som momentos para os pactos e  consensos que reclamam os responsáveis do desemprego, dos salários de miséria, dos despejos, da emigraçom, da pobreza, do reforçamento do patriarcado, da assimilaçom lingüística e cultural.
 
É necessário vertebrar um amplo e plural pólo patriótico rupturista sem exclusons, com vocaçom integradora, que sem timoratismos nem complexos, armado do programa avançado que reclamam amplos setores das massas, leve a iniciativa, ocupe as ruas e faga frente a esta manobra do espúrio e corrupto regime espanhol. 

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Carlos Morais Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, a 12 de maio de 1966. Licenciado e com estudos de doutoramento em Arte, Geografia e História pola Universidade de Compostela, tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, entre os quais destacamos A luita dos pisos, Ediciós do Castro, 1996; Crónica de Fonseca, Laiovento, 1996, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra, Voz Própria, Política Operária, Insurreiçom, Tintimám, e em publicaçons digitais como Diário Liberdade, Galicia Confidencial, Sermos Galiza, Praza Pública, Odiário.info, Resistir.info, La Haine, Rebelion, Kaosenlared, Boltxe ou a Rosa Blindada, da que fai parte do Conselho assesor. Também tem publicado ensaios políticos em diversos livros coletivos: Para umha Galiza independente, Abrente Editora 2000; De Cabul a Bagdad. A guerra infinita, Dinossauro, 2003; 10 anos de imprensa comunista galega, Abrente Editora 2005; A Galiza do século XXI. Ensaios para a Revoluçom Galega, Abrente Editora 2007; Galiza em tinta vermelha, Abrente Editora 2008; Disparos vermelhos, Abrente Editora 2012. Foi secretário-geral de Primeira Linha entre dezembro de 1998 e novembro de 2014. É membro do Comité Executivo da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Fundador de NÓS-Unidade Popular em junho de 2001, formou parte da sua direçom até a dissoluçom em maio de 2015. Na atualidade, fai parte da Direçom Nacional de Agora Galiza e do Comité Central de Primeira Linha.