Contra quem luitamos?, quem é o nosso verdadeiro inimigo?

Novamente Podemos logrou ocupar a centralidade da comunicaçom política mediante umha ingeniosa campanha contra o que definem como a “trama política, empresarial e mediática que tem saqueado Espanha”.

Por Carlos Morais | Compostela | 28/04/2017

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Empregando um autocarro rotulado com imagens de destacados membros das elites políticas, institucionais, empresariais e económicas, assim como relevantes mercenários do aparelho de manipulaçom mediática, a nova socialdemocracia populista aparenta agir como o que nem é, nem pretende ser. 
 
No relato podemita  o núcleo selecionado, configurado por Mariano Rajói, Eduardo Inda, José María Aznar, Miguel Blesa, Jordi Pujol, Felipe González, Juan Luis Cebrián, Gerardo Díaz Ferrán, Juan Miguel Villar Mir, Luis Bárcenas, Esperanza Aguirre e Arturo Fernández, seriam algumhas das figuras mais destacadas da trama que “tem parasitado Espanha”.
 
Mas esta campanha novamente é pura propaganda, simples marqueting sensacionalista que contribui para adormecer o povo trabalhador, a sedá-lo, reforçando o sistema capitalista e o regime postfranquista. 
 
Mediante um engano terminológico e umha falsificaçom da realidade Podemos pretende transmitir que as consequências da crise capitalista que leva quase umha década pagando a classe trabalhadora e o povo empobrecido, golpeando nas condiçons de vida, é consequência dumha camarilha encistada no aparelho e centros de decisom do Estado espanhol.
 
Umha rede mafiosa que agora denominam “trama” [substituta do conceito de casta] teria sequestrado as instituiçons e a “democracia”.
 
Desmascará-la com nomes e apelidos é um dever para contribuir para facilitar as tarefas do poder judicial e dos meios de “comunicaçom”.
 
Mas como nom podia ser de outro jeito, com este sucedáneo perfeitamente calculado nos laboratórios de sociologia, Podemos lança mutilados dardos de seda, ficando na simples crítica superficial do que realmente está acontecendo e de quem som os verdadeiros inimigos da classe trabalhadora, das mulheres, da juventude e obviamente da Naçom Galega.
 
Umha das tarefas das organizaçons revolucionárias é a luita ideológica e a pedagogia política. Embora enganar o povo seja um delito, a mentira é umha prática histórica caraterística da socialdemocracia. @s comunistas devemos contribuir para que o proletariado, o conjunto da classe trabalhadora e os setores empobrecidos, adotem consciência e saibam quem som os responsáveis pola exploraçom de classe e da opressom. A verdade sempre é revolucionária!
 
Com esta manobra de distraçom que só procura manter referencialidade mediática, Podemos está enganando-nos, pois elude e omite quem realmente som os verdadeiros responsáveis da sobre-exploraçom e dominaçom que padecemos.
 
Pablo Iglesias substitui deliberadamente de responsabilidades à burguesia, trocando-a fraudulentamente por umha camarilha corrupta incrustrada no seu seio. Nom é umha fraçom, nem umha casta, tampouco umha rede, nem umha camarilha, nem umha trama, nem um lobby quem decide e impom aos partidos sistémicos as políticas económicas a golpe do BOE todo o entramado legislativo para perpetuar a estabilidade do sistema vigorante. É a burguesia, como a classe proprietária dos meios de produçom, dos bancos, das imobiliárias, dos seguros, dos hotéis e empresas de construçom, da educaçom e sanidade privada, quem realmente detenta o poder nesta ditadura sob fachada democrática. 
 
Claro que existem fraçons no seu seio, porque a concorrência é umha das caraterísticas genéticas do modo de produçom capitalista, e entre os diversas setores existem contradiçons, mas à hora da verdade a burguesia fecha fileiras para defender o sistema capitalista, para reforçar a dominaçom sobre o povo trabalhador, para disciplinar a luita operária, para criminalizar as organizaçons revolucionárias de orientaçom e prática socialista e comunista. 
 
Nesta manobra de distraçom Podemos evita incorporar à sua “trama” nengum representante do poder judicial, excluindo por exemplo os juízes da “Audiência Nacional” que há uns dias condenárom umha tuiteira por aplaudir a execuçom do ex-presidente do governo franquista.
 
Resulta chamativo que só um grande oligarca estejam assinalado na campanha da trama. Ou é que as famílias que detentam o poder das grandes empresas do Ibex 35 estám ao margem de responsabilidades da grave situaçom pola que atravessa o povo trabalhador? Nom sabe Podemos que o património das 200 pessoas mais ricas do Estado espanhol incrementou em mais de 31.400 milhons de euros em 2016?
 
Embora sim aparece Juan Miguel Villar Mir [Grupo Villar Mir e OHL], na campanha de Podemos estám invisibilizados Amancio Ortega [Inditex], Juan Roig Alfonso [Mercadona], Sandra Ortega Mera [Inditex], Rafael del Pino Calvo-Sotelo [Ferrovial], Francisco e Jon Riberas Mera [Gestamp e Gomvarri], Sol Daurella [Coca Cola Europea Partners], Juna e Carlos March [Banca March e Corporaçom Financieira Alba], Isak Andic Ermay [Mango], família Entrecanales [Acciona].
 
Boa parte destas fortunas fôrom lavradas no franquismo, pois ou bem se lucrárom da ditadura fascista copando a maioria das obras públicas e setores estratégicos da autarquia, ou bem se enriquecérom mediante a incautaçom das propriedades da derrotada burguesia republicana.
 
Nesta adulteraçom perfeitamente programada da realidade o podemismo habilmente evita questionar a natureza ilegítima do atual regime, como continuaçom do franquismo, como tampouco há nem umha só palavra sobre a monarquia. 
 
Ou Juan Carlos I nom teria que ter um lugar destacado no pódio da trama, entre Bárcenas e Blesa? Em 1969 quando foi nomeado sucessor na chefatura do Estado por Franco carecia de fortuna “destacada”, mas já em 2012 superava os 2.300 milhons de dólares segundo The New York Times.
 
A estrategia de Podemos procura simplesmente acumular forças eleitorais para ter opçom de ser força de governo na alternáncia política da partitocracia burguesa. Eis polo que a sua linha regeneracionista nem questiona o capitalismo, nem a opressom nacional da Galiza, nem a UE e a NATO, nem muito menos realiza pedagogia política para preparar e organizar o povo trabalhador numha estratégia visada na tomada do poder.
 
O “tramabus” é um inofensivo espectáculo de malabarismo, um reality show que retroalimenta o seu falso perfil de força antagónica com os partidos tradicionais do regime, e facilita muniçom gratuíta às tertúlias e meios de [des]informaçom do neofascismo.
 
Livrando-nos da “trama” resgatariamos as instituiçons e a democracia para a gente. Esta trapalhada como bom analgésico de massas nom passa de ser um complemento da desvirtuaçom léxica, da trivializaçom da realidade que carateriza o reformismo. 
 
Porque a fim de contas Pablo Iglesias com esta campanha nom só nom di nada novo, mais bem reforça um dos fetiches mais destacados da burguesia e do seu aparelho de propaganda: a imparcialidade do Estado, a divisom de poderes e a autonomia do poder político sobre o ámbito económico e financieiro, alimentando o ilusionismo do eleitoralismo que atualmente tem anestesiado o povo. 

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Carlos Morais Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, a 12 de maio de 1966. Licenciado e com estudos de doutoramento em Arte, Geografia e História pola Universidade de Compostela, tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, entre os quais destacamos A luita dos pisos, Ediciós do Castro, 1996; Crónica de Fonseca, Laiovento, 1996, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra, Voz Própria, Política Operária, Insurreiçom, Tintimám, e em publicaçons digitais como Diário Liberdade, Galicia Confidencial, Sermos Galiza, Praza Pública, Odiário.info, Resistir.info, La Haine, Rebelion, Kaosenlared, Boltxe ou a Rosa Blindada, da que fai parte do Conselho assesor. Também tem publicado ensaios políticos em diversos livros coletivos: Para umha Galiza independente, Abrente Editora 2000; De Cabul a Bagdad. A guerra infinita, Dinossauro, 2003; 10 anos de imprensa comunista galega, Abrente Editora 2005; A Galiza do século XXI. Ensaios para a Revoluçom Galega, Abrente Editora 2007; Galiza em tinta vermelha, Abrente Editora 2008; Disparos vermelhos, Abrente Editora 2012. Foi secretário-geral de Primeira Linha entre dezembro de 1998 e novembro de 2014. É membro do Comité Executivo da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Fundador de NÓS-Unidade Popular em junho de 2001, formou parte da sua direçom até a dissoluçom em maio de 2015. Na atualidade, fai parte da Direçom Nacional de Agora Galiza e do Comité Central de Primeira Linha.