O cristianismo teve problemas com o sexo desde os seus inícios. Jesus dizia: “Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela”. Isto singelamente vai contra as tendências inerentes à própria natureza humana que se sente atraída pola beleza e por todo aquilo que satisfaz as pulsões humanas fundamentais, como são a fame, a sede e o sexo. Acaso quem deseja uns apetitosos mariscos das nossas rias, comete pecado? Cometerá pecado, ou seja, uma infração moral, se deseja saciar a sua pulsão roubando-o ou praticando o intrusismo, mas nunca desejando-o. Igualmente, podemos dizer que desejar praticar sexo com uma mulher provocativa é algo natural e isso nunca pode estar mal. O que está mal é forçá-la, drogá-la ou enganá-la para conseguir os seus objetivos, faltar à fidelidade com outra pessoa, etc. O que está mal é o que faz a igreja obrigando à mulher a prestar o dévito conjugal sempre que o pida o varão e vice-versa, e que converte a um membro da parelha em escravo sexual do outro, pretextando que o corpo da mulher pertence ao marido e vice-versa.
Jesus também recomendou a castração polo reino dos céus, que levou a que muitos se castrassem fisicamente, como o próprio Orígenes, o grupo dos valesianos, que castravam a todo aquele que caia nas suas mãos, e muitos bispos e patriarcas, além dos meninos da capela Sixtina. Isto conduziu a que a igreja decretasse que a virgindade, ligada a uma suposta pureza angelical e a uma entrega total a Deus, é um estado mais perfeito e superior ao matrimônio, associado com a impureza e a sujidade, elevando-se deste jeito eles mesmos na escala social e denigrando aos que praticam sexo, sem fundamento absolutamente nenhum. Esta impureza e sujidade do sexo é a que induziu o judaísmo e o cristianismo a estabelecer a festa da purificação, dia no que as mulheres vão à igreja para purificar-se da impureza associada à prática do sexo, ao parto e à prenhez.
O cristianismo manteve uma luta sem quartel em prol da imposição coativa do celibato, que foi, sem dúvida alguma o tema mais recorrente tratados nos concílios eclesiais a partir do século IV, o qual indica que, se em tantos concílios se tem que impor tão reiteradamente, é porque a imposição anterior foi um fracasso. O celibato é também um tema onipresente nas reflexões morais dos teólogos cristãos, tendo como adais, seguindo ao misógino e misossexual Paulo de Tarso, aos grandes teólogos repressores das tendências sexuais deste século, Santo Jerônimo e Santo Agostinho, mas todos eles seriam superados polo papa Gregório I o Grande, que, alem de proibir o estudo da gramática, afirmou que o todo sexo, portanto também no matrimônio, não pode dar-se sem pecado. Ou seja que uma tendência profundamente inserida na natureza humana, que, segundo eles, foi criada por Deus, só pode exercitar-se pecando. Já podemos adivinhar os remorsos de consciência e o neuroticismo que isto provocaria em pessoas crentes e bem intencionadas que desejam agradar à divindade e aos seus gerentes na terra.
Os clérigos costumam ameaçar com o inferno as pessoas que dissentem dos seus posicionamentos, como se eles tivessem a chave do seu futuro, mas isto não é mais que uma treta para atemorizar e conseguir pessoas obedientes e submissas aos seus desígnios, além de ser um meio que lhes reporta pingues benefícios econômicos na modalidade de inferno temporal que é o purgatório. Já Castelao pedia sarcasticamente que lhe deixassem usufrutuar o purgatório.