Por Ramón Varela | Ferrol | 25/05/2021
Eu considero que todas as línguas estão politizadas, e, portanto, tem conotações políticas, igual que todo o ensino, a cultura, a energia, meios de comunicação, etc. Os que redigiram a CE de 1978 faziam ou não política? Pode alguém redigir uma constituição sem que faça política? Todos sabemos o que diz no artigo 3: “O castelhano é a língua espanhola oficial do Estado. Todos os espanhóis têm o dever de conhece-lo e o direito a usá-lo...”. Isto é um pronunciamento político ou não? Se não é um assunto político, inclusive de primeira magnitude, por que essa luta entre os partidos para impor as suas teses a este respeito? O Sr. Wert, quando impôs o espanhol com língua veicular obrigatória em todas as comunidades e impedindo a imersão linguística, estava ou não fazendo política? Todas as disposições que obrigam a utilizar o espanhol, alguns dizem que umas 600, impõem-se por motivos políticos ou motivos culturais assépticos? O Parlamento francês quando aprovou a imersão nas línguas distintas do francês estava ou não fazendo política?
Se todas as línguas têm conotações políticas, o galego pode deixar de tê-las? O Sr. Feijóo quando impôs, velis nolis, o decreto de plurilinguismo, com a oposição de todos os demais partidos e associações culturais, salvo Galícia Bilingue, estava ou não fazendo política? Neste caso, porque outros partidos, como o BNG, lutaram tanto para que se derrogasse? É essa política que faz o PP na Galiza influi ou não no que está a passar com o devir da nossa língua ou o que influi no seu decaimento são as ações que intentam promove-la? O Presidente galego quando levou à escola o referendo para que os pais decidissem que língua utilizar, estava ou não fazendo política? Pode que o que queira dizer o Sr. Villares é que alguns grupos se apropriam da língua. É isto? Se é assim, porque não se apropriam também os demais do galego? Ou só se trata de deslegitimar aos que mais amam a língua e intentar uma recompensa política por um labor não realizado ou polo menos que outros não saiam beneficiados? Quiçá o que queira dizer é que não há que impor a língua, mas se é assim, isto aplica-se só ao galego? Porque essa obrigação teve tanto êxito a respeito do espanhol, francês, etc.? Ou não se pode e deve legislar a respeito do nosso? Pode haver uma lei que não implique obrigações legais? Ou isto só é válido para o galego, basco e catalão? Ou têm os rapazes galegos uma especial aversão às normas em prol do galego por uma idiossincrasia peculiar deles?
Pode também querer dizer, igual que faz o Secretario Geral de Política Linguística, que a gente não fala uma língua porque esteja num decreto. Se é isto o que quer dizer, só têm que explicar porque perderam tanto tempo desde os Reis Católicos promulgando decretos favoráveis ao espanhol e em geral à centralização de todas as decisões em Madrid? Por que historicamente não deixaram que cada povo falasse a sua língua e não fazer o que se ocorreu a Felipe V: “reduzir todos os meus reinos de Espanha à uniformidade dumas mesmas leis, usos, costumes e tribunais, governando-se igualmente todos polas leis de Castela, tão louváveis e plausíveis em todo o universo”. Esta política impositiva do espanhol teve êxito e muito especialmente durante o regime franquista, e agora alguns pretendem solucionar o problema do idioma galego desincentivando a luta dos patriotas galegos em prol da sua normalização plena, que, evidentemente, é uma luta política, igual que a dos que lutam pola sua desaparição.