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Versos para umha língua de minifúndios

É urgente. Nom há, Irmáus, tarefa mais necessária e urgente: Temos que pôr a salvo o nosso barco; ¡estase-nos fundindo pouco a pouco!

Por AGAL (http://a.gal) | GC ABERTO | 31/01/2025

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Em 1969, Manuel Maria escrevia estes Versos para un país de minifundios. Através deles, encoraja o povo galego a se libertar da sua mansidom e a lutar; um povo constituído também polas galegas de além-mar, evocadas nesse Irmáus. Nom por acaso, o poeta manifestou-se em múltiplas ocasions partidário da norma reintegracionista para o galego e foi sócio da Associaçom Galega da Língua (AGAL), com a que mesmo chegou a publicar três livros: Versos do lume e o vaga-lume (1983), A luz ressucitada (1984) e Oráculos para cavalinhos-do-demo (1986).

Iniciativa posta en marcha no mundial de Brasil para impulsar o galego-portugués
Iniciativa posta en marcha no mundial de Brasil para impulsar o galego-portugués | Fonte: omundialfalagalego.com
Nestes Versos, tratam-se, dum ponto de vista contestatário, os problemas que durante muito tempo afetárom (e ainda afetam) a sociedade galega, como som a emigraçom, a exploraçom das classes populares, a pobreza ou o minifundismo.

Quando falamos em minifundismo, amiúde pensamos nos seus efeitos contrários para a economia e sociedade agrárias. Basicamente, trata-se de pequenas parcelas agrícolas, fragmentadas e atomizadas, que dificultam o aproveitamento eficiente da terra. A baixa rendabilidade impulsa muitas famílias a procurarem rendas adicionais e melhores oportunidades noutras zonas e setores, abandonando as terras. Em consequência, estas acabam cobertas de mato e aumenta o risco de incêndios florestais que levam à sua extinçom, sem revezamento geracional para as recuperar.

Acho que a metáfora é palpável. Um minifundismo linguístico acarretará também os seus prejuízos: umha língua fragmentada, dispersa e ameaçada por um modelo que privilegia o grande, o centralizado e o homogéneo verá comprometida a sua sobrevivência. O latifúndio do espanhol dominante entrava a coesom e proeminência do galego como língua plenamente funcional no território em que, desarmoniosamente, ambas as línguas coexistem.

O poeta e escritor Manuel María
O poeta e escritor Manuel María | Fonte: www.letranasobras.com

O abandono produz-se exatamente pola mesma razom: umha vez as pessoas galegas reparam em que a sua língua nom lhes oferece vantagens no mundo social, laboral ou cultural, abraçam o espanhol como opçom mais entável. Algumhas, já maioria, nascem instaladas nessa realidade.

O esfarelamento constante e a falta de planificaçom a longo prazo debilitou a nossa capacidade para competir um mercado globalizado, pois nom se chegou a pressentir a prescindibilidade dumha língua menorizada e sem estado como o galego entre as línguas de comunicaçom internacional. Tal e como as peritas agrícolas sugerem medidas corretivas como o cooperativismo ou a gestom compartilhada da terra, nom cabe também a nós optar por

revigorar o potencial da nossa variedade aproveitando os nossos próprios recursos? Conectando-a com espaços mais amplos que abrangem outras variedades do nosso mesmo diassistema? A soluçom ao problema do minifúndio na Galiza e a estratégia reintegracionista para a língua partilham a mesma natureza: superar a fragmentaçom e o isolamento através da uniom.

No âmbito do ativismo linguístico, somos muitas as que trabalhamos, com entusiasmo, para colocar o galego, através do português, no mundo; sem a necessidade de recorrermos ao espanhol, valendomonos daquilo que já somos. De certeza, acreditamos em que umha açom decidida nesse sentido reforçaria a língua em valor utilitário, linguístico-estrutural e também identitário, pois nengumha identidade linguística se forja sem experiências de uso bem-sucedidas nessa língua.

Cada vez que renunciamos a pensar o galego além das suas fronteiras políticas, estamos cercando um anaco da sua enorme potencialidade. Isto, é claro, implica mover os marcos mentais e, para isso, nom basta a retórica. Precisamos a criaçom e cessom de espaços e contextos de uso que testem a omnipotência do galego ao nos expormos a eles. Somos umha língua mundial, extensa e útil, quando nos apercebermos disso, nom ligaremos mais para estatísticas.

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