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Mudar o rumo. Porque reintegrar o galego a súa área originária?

Por Adela Figueroa Panisse. Académica da AGLP. Escritora e Ecologista

Por admin | Compostela | 10/12/2024

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A mediados de novembro o Instituto Galego de Estatística deu a conhecer uns dados alarmantes sobre o uso e o conhecimento da língua galega na Galiza. Segundo estes dados por primeira vez na nossa terra são mais as pessoas que falam em castelam, 29,66% do que as que utilizam a nossa língua normalmente, 24,37%. No 2018 um havia um 30,97% era falante exclusivo em Galego.Isto levantou todas as alarmes e mobilizou a um grande setor da população reclamando uma mudança de rumo nas políticas linguísticas de cuidado proteção e cultivo do idioma proprio.

bandeiras de Portugal e Galicia
bandeiras de Portugal e Galicia

O idioma galego existe como língua escrita desde o século XI. Ainda, e segundo Julio Pardo de Neyra as cantigas de amigo de Martinho de Praduzelo datam do século IX. Antes de que aparecessem a lírica  provençal e outras modalidades europeias. A lírica galega é anterior, por tanto não é o resultado de copiar um arte vindo alem Galiza, mas que tem suas origens cá, na Terra.

Os primeiros escritos do galego monstram uma roupagem bem diferente á que lhe dão os organismos que gozam do status de oficialidade hoje na Galiza. No idioma em que se escreveram as cantigas não aparece a letra “ñ”. Aparecem isso sim os pares “nh” “lh” e as letras “g” ou “j” para sons que não existem em castelhano ( fricativa velar sonora) e, que nessa língua, interpretam-se com um som gutural (fricativa velar surda) que , dentro dos países de raiz latina ( Catalão, Francês, Espanhol ou Galego-Português) é exclusivo da fala Castellana.

Há por tanto dous argumentos de importância para grafar a nossa língua  reintegrando-a a seus origens: 

1.-Seguir a linha dos cancioneiros medievais, onde aparecem refletidos muitos sons galegos  como sons nasais  típicos das línguas de origem celta, como uã nenhuã . 

(Um sinal bem marcado para distinguir a qualquer neo-falante de procedência castellana é que não sabem fazer as terminações em “n” nasais. As galegas dizemos “um ãmor”, “nom/ não é certo” separando bem uma palavra da outra com um som nasal para o “n” ou “m” ou “ão”final, que costuma a representar-se com o ~ ou til de  nasalidade, em quanto uma castellana diria: “unamor” ou “nonecerto”, Nós diríamos não há, ou nom há”, e uma castellana diria “noná”. (1) 

Nos cancioneiros medievais  utiliza-se o “j” (Cancioneiro de Ajuda), “Johan” ou o “g” diante de “e” ou “i”.  E no entanto na normativa “oficial” somente pode existir o “X” para esses usos.

Nas línguas normais conserva-se uma grafia para palavras cultas e outras que tenta refletir a sua origem etimológica, por exemplo a palavra:

GEOLOGIA

Francês: Geologie

Português: Geologia

Catalão : Geologia

Castellano : Geologia

GALEGO “OFICIAL”: ¡XEOLOXIA.!

Igual podíamos dizer de Biologia, Geografia etc, quer para as línguas mencionadas quer para a imensa maioria das línguas. Isto a mim parece-me uma excentricidade pelo que atinge ao galego.

Portanto, a língua galega deveria ser escrita: 

a) Respeitando sua historia gloriosa quando era a língua de reis e rainhas e do povo comum. (Galiza foi o primeiro reino da Europa a se constituir a partir do Império Romano esgaçado) Quando era utilizada polos poetas, artistas e troveiros que celebravam a beleza, o amor, as desditas e os maldizeres. Ou seja os sentimentos comuns aos seres humanos em todas as classes sociais. Ainda noutros documentos como o “Pacto entre irmãos” o mais antigo texto em Galego.

(Pacto dos Irmãos Pais é o nome do documento conhecido mais antigo em galego-português, datado entre 1173 e 1175, legado de uma época em que estava a se conformar no território norte-ocidental da península ibérica uma língua romance derivada do latim que evoluiu ao longo dos séculos. https://pactodeirmaos.gal/)

b) Normalizando sua imagem a semelhança de outras línguas como se indica no exemplo mais acima sobre a palavra geologia. Apreendendo a sua pronuncia em galego correto.

c) diferenciando-se do castelhano que é a língua que tenta ocupar o mesmo nicho social e ecológico que ocupa o atual galego. Por exemplo a letra  “ñ” é exclusiva do castellano. Utilizar o “ñ” para escrever em galego é mimetismo, ou se pensamos pior, colonialismo cultural. Se ainda pensamos pior é medo a sermos nós mesmas. Monstra que precisamos as angarias do castelhano para podermos andar. Em ecologia quando duas espécies competem por um mesmo nicho ecológico uma desaparece irremediavelmente.

Inclusivamente, o “ñ” utiliza-se como elemento diferenciador espanhol ( España) quer para promocionar planos de desenvolvimento amparados pelo governo central da España, quer para simbologia futebolística ou outras eventualidades a ter algo a ver com a Espanha como estado. Do ponto de vista estratégico é um grande erro mimetizar formas típicas do idioma que compete com o galego polo espaço físico social e ambiental, sobre todo se este está apoiado por um estado poderoso, em quanto a Galiza está apenas amparada por uma “Xunta” que legisla em contra do galego. Como foi o decreto da vergonha ou do plurilingüismo que fez tanto dano ao uso normal da língua.  

d) Vestindo-se de gala junto do seu filho , o português que SIM conservou a escrita histórica nascida das cantigas medievais.

Aplicando também o sentido prático à lógica da escrita direi:

Se perto de duzentos milhões de pessoas escrevem janeiro e sua pronuncia é como a nossa, com pequenos matizes na sonoridade, a que vem que nós, do país onde se gerou a língua escrevamos Xaneiro se já antigamente era escrito “Janeiro”? 

Sobre estes argumentos cá expostos encontramos textos  de vultos galegos históricos como no Padre Feijó:

33. Habiendo dicho arriba por incidencia, que el idioma Lusitano, y el Gallego son uno mismo, para confirmación de nuestra proposición, y para satisfacer la curiosidad de los que se interesaren en la verdad de ella, expondremos aquí brevemente la causa más verisímil de esta identidad.

(https://www.filosofia.org/bjf/bjft115.htm. Paralelo de las lenguas castellana y francesa)

No Padre Sarmiento encontramos referencias semelhantes, e já na época moderna a geração Nós mantinha também a mesma ideia, consequência dos numerosos intercâmbios culturais entre além e aquém Minho, que se faziam entre os elementos de tão sinalizada geração. Há bastantes trabalhos em que aparecem os relacionamentos entre os intelectuais portugueses e os da geração Nós da Galiza. O doutor Rodriguez Lapa dizia que para ele não havia maior honra que ser considerado elemento pertencente à geração Nós como galego do sul. Ele dizia também,"usque ad Mondecum"   até o Mondego era Galiza e a língua era a galega.

Voltando ao Padre Sarmiento:

En concurrencia de Portuguesa, y Gallega son fuertisimas las razones, que pone el P. M. para prueba de que jamás la Gallega pudo dimanar de la Portuguesa. Añadió que en caso de haber dimanado una de otra, es mas verisimil que la Portuguesa sea extensión de la Gallega.

…….

Lo que à mí me parece es, que, como dice el P. M.la Lengua Gallega jamás dimanó de la Portuguesa; y, como lo podrá probar el cotejo, jamás dimanó de la Castellana (...). La pronunciacion que los Gallegos dán à la J, G, X, (casi al modo de los Franceses) jamás

se halló en la Castellana (...). 

(IDEAS LINGÜÍSTICAS DELPADRE SARMIENTO

DOI: 10.17057/fmfhv.2021.00).

CONCLUSÃO: Gostaria de começar com uma pergunta, ainda por ser este jeito de agir bastante galego. Eu orgulho-me de ser galega. 

A pergunta é: Porque? Porque se fez “oficial” para a normativa do galego a norma castellana ?. (uso do “ñ”, do “ll” . Proscrito o “j” e o “g” diante de e ou i. Substituição dos grafos “j” e “g” por “x” inclusivamente naquelas palavras que raiam à vista como a indicada Geologia, Geografia etc)

Porque querem fazer do galego uma língua isolada ocupando um beco sem saída?. As línguas são sistemas vivos que precisam de intercambiar conhecimentos, energia e vocabulários com outras línguas. Eu como bióloga, ou por sentido comum,  sei da importância da biodiversidade e do intercâmbio genético nascido da reprodução sexual para garantir a sobrevivência das espécies.

Porque me vestem a minha língua com uma grafia espúria que acelera a sua diluição na língua dominante, que a confunde com esta e que não permite exprimir toda a sua fonética riquíssima e musical?

Porque apagaram a voz dos intelectuais que eram partidários de reintegrar a nossa língua com as suas raízes como fizeram em Portugal? 

Porque negaram a Carvalho Calero, ( O Galego ou é Galego-Português ou é Galego-Espanhol. C. Calero dixit) a Ernesto Guerra Dacal Catedrático de linguística da universidade de New York exiliado republicano e que conseguiu que a Galiza participasse nos encontros para a ortografia  comum dos países lusófonos ( Totalmente proscrito para a cidadania e para estudantes de ensino oficial) a Castelao ( A nossa língua floresce em Portugal. É extensa e util) A Salvador Mosteiro (autor do vocabulário galego das Irmandades da Fala e promotor de inúmeros intercâmbios entre escritores portugueses e galegos) e a tantos outros e outras que defendiam o mesmo que defendem o Padre Sarmiento ou o Padre Feijó? 

Porque os professores/as de galego ignoram propositadamente a história da nossa língua e negam-lhe seu presente e as possibilidades de futuro da universalidade?

É que vale tanto louvar, adular ao poder? Ou será que têm medo a SER galegas e galegos com todas as consequências?. 

Para onde é que pensam que pode ir uma língua à que lhe tolhem vocabulário ( veja-se o fraquinho dicionário da RAG ao que que vão tirando palavras em lugar de acrescentar-lhas?. Busquem, por exemplo a palavra “voltar”, desapareceu como tantas outras, sumiu como dizem em Brasil.) que a isolam de jeito artificial?. Será para afoga-la de vez?

Minha mãe falava “dos que mandam no galego”. Verdadeiramente o Instituto de la Lengua Gallega fundado por Constantino Garcia , um senhor que vinha de Madrid, lutou com todas as armas que o poder oficial lhe forneceu contra a cátedra de galego da Universidade de Santiago. Pessoalizando sua inquina contra o Professor Ricardo Carvalho Calero. Houve perseguição contra o professorado que mostrava afinidade para as suas teorias reintegracionista acerca da nossa língua. E seus discípulos/as do ILGA foram colocados nos postos chaves da língua . Esses que “mandam no galego”. Ainda assim a verdade é tão grande que não podem acalar. Grandes vultos da língua mantém-se independentes como Isaac Alonso Estraviz que construi permanentemente o maior dicionário da língua galega sem cobrar um tostão e muitas /os outras que seguem na esperança de que o galego continue nos nossos filhos e netos/as com toda a dignidade que se merece. E mesmo que for extra oficialmente, há organizações que mantêm a língua com grande coragem e vontade como AGAL, a AGLP, O Facho, Madia Leva, Escolas Semente, etc. Recentemente grupos de poetas galegas e portuguesas, de jeito espontâneo, publicam em coletivo diversos volumes, como Caminhos que acaba de sair do prelo. A luta pela dignidade da nossa língua e pola sua permanência entre as línguas vivas não para. Felizmente ainda há no país gente independente que não precisa de achegar-se ao poder para sobreviver renunciando ás regalias que dá a sua proximidade. 

Como diz a canção:

“ Sempre há alguém que resiste

sempre há alguém que diz não”.

(Trova do vento que passa. Manuel Alegre)

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1.- Martinho Montero Santalha Martinho Montero Santalha. Método pratico de língua galego portuguesa. Ainda, tem muitos trabalhos sobre este fenómeno linguístico caraterístico do galego e diferenciador do Castellano.

Outros:

Recomendo ler a Marco de Neves sobre a língua galaico portguesa.https://certaspalavras.pt

Rede da galilusofonia em watsapp. Em particular cito Adrienne Savazoni.

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